Bolsonaro usa fake news contra Lula para atrair voto católico

Atualizado em 14 de setembro de 2022 às 23:30
Atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL) na igreja. Foto: Wilton Junior

Após as últimas pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) “assumiu o discurso do medo” para tentar reduzir a preferência do eleitorado católico pelo ex-presidente e candidato Lula (PL).

Segundo coluna publicada pelo Estadão, o presidente que não possui estratégia alguma com este grupo, vê como única saída repetir que o petista vai perseguir católicos no Brasil, como o caso dos expurgos promovidos pelo governo de esquerda de Daniel Ortega, na Nicarágua.

O atual presidente vem criando fake news para atrair votos do eleitorado católico, e promove campanha negativa contra seu principal adversário nas eleições. Ambos os candidatos são católicos, contudo, Bolsonaro se casou em cerimônia evangélica e foi batizado pelo Pastor Everaldo, atualmente preso, em 2016, no rio Jordão, em Israel.

“O atual ditador da Nicarágua prende padres, fecha TVs e rádios católicas, expulsa freiras de lá e chama os católicos de fascistas. Não podemos deixar que isso chegue ao Brasil. O ex-presidente, que é candidato, falou que cada presidente pode fazer o que bem entender no seu país. Não é bem assim, não. Se está perseguindo católicos lá é sinal que ele pode fazer o mesmo aqui no Brasil. Pode não, vai fazer, porque ele disse que vai botar no seu devido lugar padres e pastores no Brasil, caso chegue a presidente. E, mais grave, vai legalizar o aborto, vai legalizar as drogas e manter a política terrível conhecida com ideologia de gênero”, disse Bolsonaro durante entrevista ao programa do Ratinho na última terça-feira (13).

Bolsonaro explora o fato do petista evitar críticas mais contundentes a Ortega, já que no ano passado, em entrevista à imprensa internacional, Lula disse que não poderia julgar a prisão de candidatos opositores ao governo da Nicarágua. Na época, o PT chegou a publicar nota saudando a eleição de Ortega, mas apagou em seguida.

O atual presidente passou a citar uma frase de Lula fora do contexto, durante comício inaugural de sua campanha no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, quando reagia a boatos e notícias falsas difundidas por líderes religiosos evangélicos. Os bolsonaristas passaram a dizer que Lula ameaçou “enquadrar” os clérigos. Entretanto, o candidato do PT afirmou que poderia se conectar com Deus sem a intermediação de alguma autoridade sacerdotal.

“Quando quero conversar com Deus, não preciso de padres ou de pastores. Eu posso me trancar no quarto e conversar com Deus quantas horas eu quiser sem precisar pedir favor a ninguém. É assim que a gente tem que fazer para não ser obrigado a escutar pessoas contando mentiras, quando deveria estar cuidando da fé, da espiritualidade, lendo a Bíblia decentemente, e não inventando coisas”, disse Lula, na ocasião. Na semana passada, durante encontro com lideranças protestantes, no Rio, ele afirmou que admite “um ser humano normal mentir, mas não é aceitável um pastor, que diz falar em nome de Deus, mentir”. Chegou a mencionar a Lei da Liberdade Religiosa, sancionada no primeiro ano de seu governo, em 2003.

A coluna escrita por Felipe Frazão, no Estadão, ainda diz: “Antes de ser incorporada pelo próprio Bolsonaro, a “guerra santa” da campanha passava pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e por aliados no meio evangélico, como o deputado e pastor Marco Feliciano (PL-SP). Ambos abordaram o caso da Nicarágua. Identificado com bandeiras do bolsonarismo, o padre Paulo Ricardo, um dos porta-vozes do conservadorismo católico, fez um curso sobre a situação daquele país. Aliados do presidente compartilharam nos últimos dias, o apelo de uma freira brasileira, que, em tom alarmista, falava sobre a possibilidade de um bispo ser executado”.

A propaganda de Bolsonaro veicula, ainda, a imagem de Madre Tereza de Calcutá contra o aborto e associa Lula à defesa da prática. A campanha do presidente não buscou diálogo com lideranças da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem um histórico de críticas ao governo e é considerada por Bolsonaro como “parte podre” da Igreja, em 2018.

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