A crise na Petrobras que culminou com a saída de Pedro Parente teve um efeito benéfico, além da remoção daquele que nitidamente trabalhava por interesses que não os da população brasileira. Levantou o debate sobre a razão de ser da empresa: ela existe para servir aos interesses do mercado — leia-se, quem compra ações da empresa — ou da população brasileira?
Para quem vive de salário e tem que fazer contas para não estourar o orçamento do mês, não é possível considerar positiva a gestão de um presidente que permitiu que a gasolina chegasse a R$ 5,00 e o botijão de gás a R$ 90,00. E tenha que conviver com situações absurdas como esta:
Quem mora em Foz do Iguaçu paga cerca de R$ 5,00 pelo litro da gasolina se abastecer em território brasileiro. Mas, atravessando a fronteira, nos postos da Petrobras em Ciudad del Leste, o motorista paga R$ 2,50.
Tudo bem: há os impostos, como também há no Paraguai. E como sempre houve no Brasil. O que mudou é a política de preços. O Brasil paga em dólar pela compra de um produto que produz em reais, e produz com competência.
Não fosse assim, em 65 anos não sairia da produção zero de óleo para a autossuficiência.
Quem investiu para que o Brasil alcançasse essa posição? O governo, com o dinheiro do povo brasileiro. A quem pertence o óleo encontrado no subsolo do território nacional, seja em terra firme ou no fundo do mar? À União, é patrimônio do povo brasileiro.
Portanto, a Petrobras é de fato e de direito da população e a ela deve servir.
Ao comprar ações, os investidores escolhem ser sócios do governo, responsável pela administração dos bens públicos, como lembrou o consultor na área de energia Jean-Paul Prates.
Com o desenvolvimento do País, cresce a Petrobras e os acionistas embolsam lucros, como no tempo em Lula foi presidente e a Petrobras atingiu seu maior valor de mercado, em 2008.
Esta é a lógica de uma empresa sob controle público.
Jean-Paul fez essa lembrança inclusive à TV Globo, ontem, mas ninguém tomou conhecimento porque, segundo ele, sua fala foi vetada.
E foi vetada porque à Globo interessa o discurso único de que a Petrobras precisa atender aos interesses dos acionistas — no caso, minoritários, já que o acionista majoritário é o povo brasileiro.
E a Globo faz isso obedecendo a uma lógica que, ao fim e ao cabo, se tornou a razão de sua existência: garantir a apropriação dos bens públicos por uma minoria, e assegurar que pareça defender o interesse da maioria.
Sempre foi assim. Carlos Lacerda chamou Roberto Marinho de Al Capone porque, quando governador da Guanabara, na década de 60, foi pressionado para mudar a legislação e garantir a construção de prédios numa região de proteção amebiental no Jardim Botânico.
Mais recentemente, na região de Poços de Caldas, quando era governador, Aécio Neves pavimentou uma estrada e alterou seu curso apenas para que ela não cortasse a fazenda de Roberto Irineu Marinho, a Fazenda Sertãozinho, que produz o café Orfeu.
A filha de João Roberto Marinho, Paula, neta de Roberto Marinho, juntamente com o então marido, violou a legislação ambiental para construir acima do permitido em área de preservação, em Paraty.
Além disso, fechou o mar nas proximidades de seu terreno, para impedir a aproximação de turistas e garantir uma praia particular.
Nos três casos, são bens públicos servindo a interesses particulares. Nos três casos, prevaleceu a impunidade.
A Petrobras é nossa, o petróleo também. Mas, ao defender a política ruinosa de Parente — ruinosa para os brasileiros em geral — , a Globo consegue confundir a opinião pública.
Alguém ganha com essa política, e não é o brasileiro que tem de atravessar a fronteira para comprar combustível pela metade do preço.
Se a Globo diz que o criador dessa política é um gênio, deve ter razão. Mas, com certeza, Parente não colocou essa genialidade a serviço do principal acionista da Petrobras, o povo.
Se se investigar, se verá que na sua gestão na Petrobras há um desvio, tal qual o da fazenda Sertãozinho (onde eu estive fazendo reportagem), em Poços de Caldas: o desvio prolongou a estrada e tornou o caminho mais sinuoso, inclusive sujeito a acidentes.
Em contrapartida, a fazenda de Roberto Irineu ficou sem o tráfego de carros e a família assegurou maior privacidade.
Por essa e por muitas outras, Aécio era naquela época apresentado como o maior estadista do Brasil.
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Veja o vídeo em que a Globonews “desaparece” com entrevistado crítico a Parente durante o intervalo.