Originalmente publicado por REDE BRASIL ATUAL
Por Eduardo Maretti
Em termos nacionais, o grande fato das eleições municipais de 2020 é a votação de Guilherme Boulos (Psol) em São Paulo, na opinião do cientista político Roberto Amaral, presidente do PSB até 2014 e ministro de Ciência e Tecnologia no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Seja qual for o resultado do segundo turno, ele vai ser um quadro político do primeiro ranking. Boulos se consagra como liderança nacional. É um feito muito importante, principalmente se considerar que Jilmar Tatto (PT) não retirou a candidatura e que boa parte do petismo continuou votando no seu candidato”, diz Amaral. “Ele foi ao segundo turno sem ter tido tempo de TV. Teve 17 segundos. Agora ele e Bruno Covas (PSDB) vão ter o mesmo tempo.”
Em coletiva, Boulos falou sobre o segundo turno. “Imagine agora, com tempo igual, olho no olho, com debates”, disse o candidato do Psol. “Agora é outro jogo na cidade de São Paulo, que começa a partir desse momento. Bruno Covas falou em radicalismo. Radicalismo, pra mim, é a cidade mais rica do país ter gente revirando o lixo pra sobreviver”, afirmou.
Falhas inéditas no sistema do Tribunal Superior Eleitoral atrasaram a totalização dos resultados em todo o país. A pesquisa de boca de urna do Ibope para a prefeitura de São Paulo já apontava que o segundo turno na capital paulista seria disputado entre Boulos e Bruno Covas (PSDB).
Com 57,77% das urnas apuradas, segundo o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), Covas tem 32,81% dos votos válidos, contra 20,35% de Boulos, 13,65% de Marcio França (PSB) e 10,49% para Celso Russomanno (Republicanos).
Para Amaral, o “surgimento” de Boulos como liderança nacional é significativo. “Depois do Lula, tinha o Fernando Haddad, e agora surge a liderança de Boulos na mais importante cidade do país e capital do mais importante estado da Federação. Isso não é trivial, não é pequeno.”
Ele destaca o desempenho do PT em Recife, com Marília Arraes, que deve disputar o segundo turno com João Campos (PSB), segundo a boca de urna do Ibope. A apuração na capital pernambucana também enfrenta problemas. “Em Recife, vai haver segundo turno com dois candidatos do espectro popular, do campo de oposição ao Bolsonarismo.”
O ex-presidente do PSB também comenta o fato de que, em Fortaleza, Luizianne Lins (PT), que chegou a ter boa perceptiva, de acordo com as pesquisas, chega apenas em terceiro lugar. O segundo turno vai ser disputado entre o candidato do ex-governador Ciro Gomes, o deputado estadual José Sarto (PDT), e o nome de Bolsonaro, Capitão Wagner (PROS).
“O candidato de Ciro tem toda a chance, porque o eleitorado do PT, do Psol e do campo popular não vão deixar de votar no adversário do ‘capitão’”.
Com 99,74% das urnas apuradas na capital do Ceará, Sarto ( 35,72% ) e Wagner ( 33,31) estão no segundo turno. Luizianne tem 17,76% dos votos e o candidato do Psol, Renato Roseno, 2,68%.
Na opinião de Roberto Amaral, é relevante que “o PT compreendeu ser mais inteligente compor com candidatos populares de partidos menores do que impor uma candidatura pelo peso do partido”. Ele cita Porto Alegre e Belém. Na capital gaúcha, Manuela D’Ávila vai ao segundo turno com Sebastião Melo (MDB). Em Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL) disputa com o Delegado Federal Eguchi a eleição em 29 de novembro. Manuela e Rodrigues têm o apoio do PT nas duas capitais.