Mauro Cid, braço-direito de Jair Bolsonaro durante sua gestão, foi o responsável por escalar o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva para tentar reaver as joias sauditas ilegais retidas pela Receita Federal em dezembro de 2022, no Aeroporto de Guarulhos (SP). Ajudante de ordens do ex-presidente, ele ainda enviou um ofício a Julio Cesar Vieira Gomes, então chefe do órgão, para tentar liberar os itens.
Além de atuar para recuperar o conjunto avaliado em R$ 16,5 milhões, que seria um presente do governo da Arábia Saudita para Michelle Bolsonaro, Cid tem outros imbróglios em seu currículo envolvendo o ex-presidente, como a participação numa espécie de Caixa 2 no Palácio do Planalto, um indiciamento pela Polícia Federal por produzir fake news, ligação com terroristas e uma crise protagonizada por ele no Exército.
Indiciado pela PF por fake news
O braço direito de Bolsonaro foi alvo da Polícia Federal sob acusação de produzir desinformação disseminada pelo ex-presidente. Em dezembro, a corporação concluiu que o então mandatário associou, falsamente, a vacina contra a Covid-19 ao vírus da HIV em live feita dois meses antes.
Na ocasião, o ex-presidente ainda disse, sem apresentar provas, que a maioria das vítimas de gripe espanhola não teria morrido da doença, mas sim de uma “pneumonia bacteriana causada pelo uso de máscara”.
A corporação concluiu que Cid foi o responsável pelo levantamento das informações e, por isso, ele foi indiciado por dois crimes: Art. 141 da Lei de Contravenções Penais: Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar ato capaz de produzir pânico ou tumulto; e Art. 286 do Código Penal: Incitação ao crime.
Caixa 2 no Planalto
O tenente-coronel está envolvido em uma espécie de caixa 2 que acontecia no Palácio do Planalto durante a gestão de Bolsonaro. Após quebra de sigilo, Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) identificou que Cid fazia diversas operações financeiras com dinheiro em espécie, sacado na boca do caixa de uma agência bancária do Palácio do Planalto.
Os recursos eram sacados de cartões corporativos do governo e ele usava os valores para pagar despesas do clã presidencial, como contas pessoais de Michelle Bolsonaro. Policiais identificaram um modus operandi usado no caso das rachadinhas de Flávio Bolsonaro e investigadores acreditam que há indícios fortes de lavagem de dinheiro, segundo o portal Metrópoles.
Além do dinheiro sacado por ele em cartões corporativos, a investigação identificou valores provenientes de saques feitos por outros militares ligados a Cid e lotados em quartéis fora de Brasília que eram repassados a ele. Essas transações estão sendo mantidas sob sigilo.
Pivô de crise no Exército
O tenente-coronel também é apontado como pivô da demissão do general Júlio Cesar de Arruda no comando do Exército. O comandante foi demitido no dia 21 de janeiro por Lula, que nomeou o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva para o posto.
O ex-chefe do Exército resistia em revogar a nomeação de Cid para o 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais da Força. Ele foi escolhido para o posto em maio de 2022, durante o governo Bolsonaro, mas só assumiria o posto em fevereiro de 2023.
O governo Lula queria que a nomeação fosse anulada, mas o então comandante se recusou. Cid então foi realocado na estrutura da Força para um cargo na direção do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter). Ele deve se inscrever para o processo seletivo interno do Exército para assumir o comando de outro trabalho em 2024.
Ligação com terroristas
Pela proximidade com Bolsonaro e pela função de militar que exercia no Planalto, Cid funcionava como um elo entre o ex-presidente e vários bolsonaristas que instigavam a militância a atentar contra instituições. Entre os contatos frequentes do tenente-coronel está Allan dos Santos, blogueiro foragido nos Estados Unidos.
Uma série de áudios encontrados por investigadores indicam que Bolsonaro tinha conhecimento e controle sobre tudo que Cid fazia, como o pagamento das contas do clã em dinheiro e a interlocução com os terroristas.
Além de acompanhar o ex-presidente em tempo quase integral dentro e fora dos palácios, o tenente-coronel ainda atendia ligações e respondia mensagens em nome do ex-presidente. Ele também cuidava de outras tarefas diárias da família.