Braga Netto prometeu ajudar em fraude de compras do Exército; veja mensagens

Atualizado em 14 de setembro de 2023 às 12:45
General Braga Netto com expressão séria
O ex-ministro da Casa Civil e ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto (PL). Foto: Reprodução

A Polícia Federal encontrou conversas entre militares que sugerem que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro, teria prometido “interferir a favor” da aquisição dos coletes balísticos por meio do Gabinete de Intervenção (GIF). As mensagens são atribuídas ao oficial da reserva Paulo Roberto Corrêa Assis, e, segundo a investigação, as conversas são de 14 de dezembro de 2019, quando Braga Netto ocupava o cargo de chefe do Estado-Maior do Exército.

O general Assis teria sido contratado em 2019 pelos irmãos Glaucio e Glauco Guerra, considerados os mentores da fraude, para fazer lobby junto ao governo e reverter a suspensão do processo de aquisição dos coletes. Em uma das mensagens, Assis escreveu: “Almocei também com o Gen. Braga Netto, que me prometeu interferir a nosso favor. Por tanto, tudo bem encaminhado”.

Segundo o jornal O Globo, que teve acesso à investigação, os irmãos Guerra estavam preocupados com a suspensão do processo de compra dos coletes de proteção balística devido a suspeitas de falsificação de documentos. As mensagens de Assis levaram otimismo aos irmãos, com Glauco afirmando: “Agora o zero dois do Exército Brasileiro, que foi o interventor federal, está do nosso lado, que assinou o contrato, ou vai ou não vai né?”.

Print da conversa de Assis com um dos irmãos — Foto: Reprodução

No dia seguinte, Assis envia um e-mail que também faz parte da investigação. O oficial reforçou o encontro com Braga Netto e mencionando a compra dos coletes. No texto, ele escreveu que o general disse que “daria uma força”. “Estive num almoço sexta-feira passada com o Gen. Braga Netto e comentei sobre a liberação dos coletes de proteção balística para a Polícia do RJ. Ele disse que iria dar uma ‘força’ junto ao Sr. para atender ao que pleiteamos”.

A PF investiga se Assis, que representava a empresa Glágio do Brasil Proteção Balística, solicitou R$ 300 mil dos irmãos Guerra para fazer lobby junto ao governo. Parte desse montante, especificamente R$ 50 mil, foi pago por meio de empresas de consultoria. O restante seria pago apenas após a concretização da compra dos coletes.

Trecho do e-mail onde Assis reforça o encontro com Braga Netto e menciona a compra dos coletes — Foto: Reprodução

Em nota à imprensa, o general Braga Netto afirmou que o próprio GIF suspendeu o contrato com a CTU Security LLC, a empresa envolvida na venda dos coletes, após suspeitas de irregularidades nos documentos fornecidos. “Não houve, portanto, qualquer repasse de recursos à empresa ou irregularidade por parte da Administração Pública”, escreveu no comunicado.

A investigação da PF visa apurar os crimes de patrocínio de contratação indevida, dispensa ilegal de licitação, corrupção ativa e passiva e organização criminosa supostamente praticadas por servidores públicos federais durante a contratação da CTU Security LLC pelo governo brasileiro para a compra de coletes balísticos em 2018.

A Polícia Federal também está investigando, a partir da quebra do sigilo telefônico de Braga Netto,  “desvios de finalidade” nos gastos do GIF no Rio de Janeiro. O Gabinete foi criado posto em ação pelo então presidente Michel Temer (MDB) para colocar as Forças Armadas sob o controle da segurança pública carioca. O general bolsonarista, então no Comando Militar do Leste (CML), foi nomeado como interventor. O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou que parte do dinheiro destinado à segurança público foi usado na compra de camarão e tortas holandesas.

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