Brasil agrário não se tornará rico e desenvolvido

Atualizado em 24 de setembro de 2020 às 21:17
Bolsonaro em uma feira agropecuária: discurso e política empoderaram produtores irresponsáveis

Publicado originalmente pelo Monitor Mercantil:

Um país pautado pela agropecuária não deve se tornar rico e desenvolvido. Essa é a principal conclusão do novo estudo da Análise Econômica Consultoria “Como fomentar a inovação no Brasil?”, considerando a falta de precedente de nações que se desenvolveram produzindo commodities.

“Quando olhamos para as diversas listas dos países mais desenvolvidos, é inevitável notar que, no geral, esses países possuem grandes empresas. Mais do que isso, possuem empresas tecnologicamente avançadas. Já não é mais novidade que o avanço tecnológico é peça chave para o crescimento e o desenvolvimento de uma nação. Desse modo, a inovação, no sentido mais pleno da palavra, ou seja, a busca por novas combinações de fatores de produção que gerem lucro para o empreendedor acima da média do mercado, é o motor desse desenvolvimento”, sustentam André Galhardo, Franklin Lacerda e André Prado, que assinam o estudo.

Segundo dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), os depósitos de pedidos de patentes avançou cerca de 69% entre 1999 e 2014. Em 2015, houve estabilidade, e a partir daí, que coincide com os anos de neoliberalismo radical, aconteceu uma redução importante destes novos depósitos. Em 2019, foi registrada leve recuperação, mas os depósitos de patentes encontra-se em nível semelhante ao visto em 2008.

Entre janeiro e julho de 2020, segundo dados do INPI, cerca de 80% dos depósitos de patentes eram estrangeiros, com o predomínio de pedidos dos Estados Unidos (29%), Alemanha (7%), Japão (7%) e China (5%).

Levantamento do estudo mostra fontes de recursos que superam os US$ 200 bilhões, aproximadamente 11% do PIB brasileiro de 2019 em dólares correntes. “O problema para financiar a inovação não está ligado necessariamente a disponibilidade de recursos, mas à estrutura produtiva e ao grau de desenvolvimento do ecossistema de inovação no país.”

Os recursos destinados a Ciência, Inovação e Tecnologia (CI&T) no Brasil, orbitam os 2,3% do PIB, levemente abaixo do patamar dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da China (2,5%). Contudo, a diferença maior reside no montante investido em pesquisa e desenvolvimento pela iniciativa privada. Enquanto a média da OCDE é de 1,3% do PIB e na China é de 1,2%, no Brasil esse percentual não supera os 0,6%.

Os autores afastam o maniqueísmo que existe entre a atuação do Estado e da iniciativa privada. “Não se trata aqui, portanto, de defender a atuação deste ou daquele agente, em qualquer que seja o setor. Trata-se, contudo, de entender o que Estado e iniciativa privada podem fazer melhor e juntos.”

Dependência de tecnologias do exterior

– Os impactos das inovações sobre a economia são muito claros: maior inserção no mercado internacional dadas as cadeias de suprimentos, elevação do nível de renda no país ao criar postos de trabalho ultraespecializados, além de taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mais altas e estáveis;

– Sem inovações, o resultado é a maior dependência de tecnologias vindas do exterior, escoando nossa riqueza para outras nações;

– Entre os meses de janeiro e julho de 2020, segundo dados do INPI, cerca de 80% dos depósitos de patentes eram estrangeiros, com o predomínio de pedidos dos Estados Unidos (29%), Alemanha (7%), Japão (7%) e China (5%);

– No que diz respeito aos gastos com P&D em percentual do PIB, o Brasil, nona maior economia global em 2019, encontra-se apenas na 25ª posição mundial, atrás de países como Portugal e Emirados Árabes;

– O montante investido em Ciência e Tecnologia orbita os 2,3% do PIB, levemente abaixo do patamar de países como os que participam da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE);

– A maior diferença reside no montante investido em pesquisa e desenvolvimento pela iniciativa privada. Enquanto a média da OCDE é de 1,3% do PIB, na Coreia é de 2,6% e na China é de 1,2%, no Brasil esse percentual não supera os 0,6%.