A derrota – 1 a 0 – para Camarões na rodada final da fase de grupos da Copa do Catar tem uma consequência prática para a seleção: gerou uma desconfiança.
Mesmo que o resultado não tenha mudado a classificação – o Brasil iria enfrentar a Coreia ganhando ou perdeódo -, quem agora vai apostar todas as fichas no punch da equipe? Só para lembrar: daqui até o título são quatro mata-mata seguidos, contra os melhores times do mundo.
Você apostaria em Martinelli sem Vinícius Júnior? Pelo que jogou na sexta, difícil: mesmo sendo apresentado como revelação, o atacante do Arsenal não mostrou nada especial contra os africanos.
Não sabe driblar, não promove tabelas incisivas e, detalhe, finaliza mal: nas oportunidades que teve ou mandou a bola para fora ou na direção do goleiro camaronês, que esticava o braço e se jogava no ar.
Gabriel Jesus machucou e está fora da Copa. Faz diferença?
Antonny. Começou elétrico e não passou disso. Bruno Guimarães, meio-campista do Newcastle United, perdeu gols impensáveis.
E teve ainda Everton Ribeiro. E outros.
De positivo, vale destacar o bom futebol apresentado pelo meio-campista Fabinho, do Liverpool, de Bremer, zagueiro da Juventus, e de Ederson, sem culpa no gol de Camarões.
No início da Copa, o Brasil festejou o espírito ofensivo de Tite e o fato dele levar mais atacantes que o normal, prometendo uma equipe avançada com até quatro jogadores na grande área do adversário em alguns momentos.
A maioria desconhecidos no Brasil, foram descritos por especialistas como atletas no auge da carreira. Teve até expressão de boleiro para defini-los: cascudos, que são aqueles de nervos de aço acostumados a decidir.
Na estreia um despontou: Richarlison, do Tottenham, teve duas chances diante da Sérvia e aproveitou, sendo o segundo gol já considerado o mais bonito em estreias de Copa do Mundo.
Na segunda partida contra a Suíça já não foi bem assim: apagado, acabou substituído no 2o tempo quando o jogo ainda estava 0 a 0.
Fred, que assumiu a vaga de Neymar, teve chances contra Suiça e Camarões – neste caso, ainda não convenceu.
O Brasil tem um time equilibrado, que atua nos padrões do futebol moderno: faz marcação forte desde a linha de ataque e tenta aproveitar as saídas rápidas para fustigar o adversário.
O lado bom sobre dois times na 1a fase de grupos – Espanha, França e Portugal fizeram o mesmo que o Brasil, com o mesmo desdobramento – é a certeza de que a base é boa, capaz de fazer a diferença, mas precisa ser mantida.
Para não falar de Casemiro e Vinícius Júnior, e ainda do sistema defensivo, vamos ao próprio Richarlison e ao colega de ataque, Raphinha: jogam muito, são cascudos, é verdade – basta realçar que o melhor momento do Brasil contra Camarões foi quando Raphinha entrou no 2o tempo.
Busque nos arquivos quando você quiser saber sobre atletas decisivos: no título de 94, por exemplo, quem ainda lembra ou ouviu falar de Bebeto e Romário? Fizeram miséria, para ficar apenas nos dois.
Em 2002, uma constelação de feras: Ronaldo Fenômeno em grande forma, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafu, Roberto Carlos, era um grande time.
Em relação às últimas Copas, a equipe atual é melhor. E ainda mostra apetite de vitória.
Outra constatação, obvia, é a presença do camisa 10 Neymar.
Ney é o único jogador decisivo da seleção canarinho nesta Copa. Com ele, o time é um, sem, outro – e só com os reservas uma experiência que nenhum torcedor quer viver tão cedo.
Ainda triturando a derrota, Tite aproveita o pós-jogo contra Camarões para ir juntando as peças para a fase de mata-mata que começa contra a Coreia nesta segunda, às 16h.
Neymar não está confirmado, nem desconfirmado.
A chance do Brasil passar é considerável. A Coreia tem um time organizado, que será pressionado e terá de responder com bom futebol.