No sábado, a pesquisa Datafolha informa que a maioria dos brasileiros elegeria Lula presidente se as eleições fossem agora. Hoje, o mesmo instituto registra que a maioria dos brasileiros quer Lula preso agora.
É contraditório.
E por quê?
Porque pesquisas induzem respostas.
E não revelam nuances que só o debate amplo trata de definir.
Sempre me chamou a atenção um episódio que define, em boa parte, a cultura ocidental.
Está narrado na Bíblia.
No auge do julgamento de Cristo, Pôncio Pilatos pergunta à multidão:
—Quem vocês querem que eu solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?
E a multidão, que uma semana antes havia festejado a entrada de Jesus em Jerusalém, responde:
— Barrabás.
O que aconteceu depois, todos sabem.
A Folha de S. Paulo não é Pôncio Pilatos nem Lula, Cristo. Talvez se possa ver alguma semelhança de Barrabás em Temer, também protagonista da pesquisa.
Mas não é isso que importa.
A Folha, incrivelmente, destaca na manchete que caiu o apoio dos que querem Temer fora do governo: era 65%, agora é 59.
59%!
E a Folha destaca que caiu o apoio aos que querem Temer fora, não que a maioria o quer fora.
Tanto numa situação como em outra, os resultados não devem ser considerados fora da perspectiva de que pesquisas induzem conclusões apressadas.
O que parece indiscutível no episódio da pesquisa da Folha e da forma como está sendo divulgada é que, lamentavelmente, o jornal revela seu caráter de veiculo manipulador.
Não só pelo efeito que sua pesquisa produz.
Mas pela forma como é apresentada.
A primeira página destaca a foto da multidão protestando na Catalunha, com a largura da manchete: “Maioria no país quer Lula preso e Temer, processado”
Não é preciso ser especialista em semiótica para perceber que isso é proposital.
Tenta unir os dois conceitos.
Quem conhece redação sabe que os editores, ao fazerem essa escolha, devem ter dado boas risadas e acredito até que alguém tenha comentado:
— Os petistas vão ficar putos.
Ficaram.
E com razão.
Mas a Folha deveria tratar com maior responsabilidade o momento político atual.