O Brasil começou o ano de 2022 esperançoso, por duas promessas tão maravilhosas quanto potencialmente frustrantes: Lula na presidência e uma transexual vencendo um reality show. A segunda, infelizmente, está morta. Linn da Quebrada foi eliminada do BBB, numa disputa com dois heteronormativos sem o menor carisma.
As razões pelas quais o Brasil, este mesmo Brasil esperançoso, escolheu dar uma chance a um homem que usa mulheres em rede nacional – Eliezer, é claro – e eliminar uma travesti dizem muito sobre o que nos espera em outubro.
Essa escolha tem a ver com transfobia, é claro, mas tem muito mais a ver com heteronormatividade. Lina foi eliminada para que dois homens pudessem permanecer. Um deles é o “pegador” da edição, e distribuiu herpes pela casa como um cachorro no cio.
Assim como a vitória de Linn dependia de nós, a vitória de Lula também depende.
Talvez se nossa esquerda fosse menos intelectualóide, Linna tivesse uma chance. Do mesmo modo, talvez devêssemos desde já abandonar a nossa arrogância e parar de dar as eleições presidenciais por vencidas.
Porque o Brasil que fez com que Babu Santana fosse vencido, o que fez de uma racista a vencedora da vigésima edição, é o Brasil que elegeu Bolsonaro. É o Brazil com Z que deveríamos temer em vez de subestimar.
Lula é, sem dúvida, uma potência jamais vista neste país. Mas o bolsonarismo é também um fenômeno esquizofrênico e poderoso. Acreditar que Bolsonaro não tem qualquer chance de vitória é ceder a uma arrogância burra.
Assim como a vitória de Lina dependia de nós, a vitória de Lula também depende. Há muito trabalho a ser feito antes de cantar vitória, e a eliminação de uma travesti em ano eleitoral é um sinal tão claro quanto aterrador.
Lina foi eliminada porque a parte do Brasil que a apoia – os ditos progressistas – recusaram-se a votar.
Recusam-se até mesmo a acompanhar o programa, porque são inteligentes demais pra isso.
Sim, querido progressista odiador da cultura de massas, você tem todo direito de não gostar de BBB. Mas se nos recusarmos a trabalhar pela eleição de Lula, certamente teremos outra promessa frustrada em outubro.