O ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal pelo PL em São Paulo, Ricardo Salles, é um dos nomes que circulam pelo Congresso para a presidência da Comissão de Meio Ambiente da Câmara. Ele, porém, cedeu à pressão de defensores das causas ambientais e disse não querer assumir qualquer cargo.
Em entrevista ao Estadão, Salles considerou ser novato na Câmara, e afirmou que prefere “aprender como é que as coisas funcionam” antes de ir para alguma comissão.
“Em princípio, preferia nem presidir nada nesse primeiro ano”, disse. “O PL não vai pegar a Comissão de Meio Ambiente, não está entre as comissões do PL. Na divisão das comissões, a de Meio Ambiente não coube ao PL. Então, eu não posso ser presidente de uma comissão que sequer está com meu partido”, concluiu o deputado.
Mesmo assim, a eventual possibilidade de Salles assumir a Comissão de Meio Ambiente causou revolta entre especialistas, que veem a possível nomeação do ex-ministro como um retorno da gestão ambiental que desempenhou durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Salles é o ministro que fez a fatídica fala sobre “passar a boiada” durante uma reunião ministerial com Bolsonaro em 2020, sugerindo que houvesse o afrouxamento de regras ambientais enquanto a sociedade estava preocupada com a pandemia.
Ele deixou o governo Bolsonaro em junho de 2021 após virar alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) em uma investigação sobre o favorecimento de empresários madeireiros na exportação ilegal de madeira.
Após o nome de Salles ser citado para a Comissão do Meio Ambiente, diversas manifestações contrárias foram feitas por meio das redes sociais.
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, afirmou que a possível indicação dele seria “desastrosa” para a implantação da nova política ambiental do governo Lula (PT), além de ser “uma afronta à sociedade brasileira”, disse ao jornal O Globo.
O deputado federal Ivan Valente (PSOL) considerou a possível nomeação do ex-ministro como uma “brincadeira de mau gosto”. “O PL está querendo Ricardo Salles na presidência da Comissão do Meio Ambiente na Câmara, o traficante de madeira ilegal que colaborou com o genocídio yanomami”, escreveu.
Só pode ser brincadeira de mau gosto! O PL está querendo Ricardo Salles na presidência da Comissão do Meio Ambiente na Câmara, o traficante de madeira ilegal que colaborou com o genocídio yanomami. Chega de boiada, Ricardo Salles é caso de polícia!
— Ivan Valente (@IvanValente) February 6, 2023
O presidente da Rede em São Paulo e aliado da ministra Marina Silva, Giovanni Mockus, afirmou que Salles presidir a comissão seria como “colocar a raposa para tomar conta do galinheiro”. “Ele é responsável pelo desmonte dos órgãos ambientais e pelo crescimento do desmatamento”, disse.
Colocar Ricardo Salles na presidência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável é como colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. Ele é responsável pelo desmonte dos órgãos ambientais e pelo crescimento do desmatamento. Salles ≠ Desenvolvimento Sustentável
— Giovanni Mockus (@GiovanniMockus) February 6, 2023
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ainda não se manifestou publicamente sobre o assunto.