Nos últimos anos, o Brasil tem vivido ciclos de manipulação política que exploram sentimentos populares — tocam diretamente seus instintos primitivos — para promover lideranças imorais que prometem moralidade. A história se repete com novos personagens e estratégias, mas sempre com o mesmo padrão: falsas promessas de combate à corrupção usadas como trampolim para o poder.
Na primeira eleição direta para presidente após a ditadura militar, a Rede Globo “inventou” e a revista Veja “vestiu” Fernando Collor como o “caçador de marajás” — funcionários públicos supostamente privilegiados e corruptos.
Mais recentemente, o Brasil foi novamente seduzido por uma narrativa moralizadora, desta vez com a Operação Lava Jato. Vendida como uma revolução ética, a operação dizia combater esquemas bilionários de corrupção envolvendo a Petrobras e diversos agentes públicos e privados. Contudo, em pouco tempo, ficou claro que se tratava apenas de uma organização criminosa infiltrada — e escondida — na estrutura estatal, cujo único objetivo era obter ganhos financeiros e políticos. Felizmente, o STF bloqueou o desvio de mais de R$ 25 bilhões para uma fundação fantasma.
Agora, uma nova ilusão é promovida por setores da extrema-direita brasileira: Nayib Bukele, presidente de El Salvador. Aclamado por alguns como um modelo de líder forte e eficiente, Bukele impôs medidas autoritárias, incluindo a suspensão de garantias constitucionais, prisões em massa e o fechamento do parlamento, sob a justificativa de combater a violência e a corrupção.
Por trás da narrativa de ordem e progresso, porém, emergem indícios claros de corrupção envolvendo-o, além de seu círculo familiar mais restrito: mãe, irmãos e esposa. Mesmo sob um regime de exceção e forte censura à imprensa, investigações jornalísticas revelaram o crescimento espetacular da fortuna da família Bukele, levantando suspeitas de enriquecimento ilícito.
E como a família Bukele teria lavado o dinheiro sujo? Imóveis. Como se vê, corruptos ao redor do mundo tendem a recorrer às mesmas estratégias, como mostra matéria do El Economista do México:
Presidente Bukele e sua família multiplicam propriedades
Uma investigação revela a compra de 34 imóveis avaliados em nove milhões de dólares, um deles em nome de um irmão. A família do presidente salvadorenho Nayib Bukele tornou-se uma importante força no mercado imobiliário, adquirindo 34 propriedades durante os cinco anos de seu governo.
Bukele qualificou como “idiotas” os jornalistas que participaram da investigação sobre a acumulação de imóveis, que envolve, além do presidente, cinco membros de sua família: três irmãos, esposa e mãe.
A investigação foi realizada por uma aliança de veículos de comunicação formada por Redacción Regional, Focos e Dromómanos.
A aliança revelou que Karim Bukele, irmão e conselheiro do presidente, comprou um prédio localizado no centro histórico de San Salvador, controlado pelo partido de Bukele, por US$ 13 milhões, três meses após a aprovação de uma lei que isenta de impostos quem investe na área.
Na semana passada, o presidente publicou no X: “Os ‘jornalistas’ pagos por Soros foram condenados a atacar com alegados casos de corrupção. Nenhuma de suas ‘investigações’ resiste à análise de um contador. Não somos perfeitos, e estou certo de que haverá muito a criticar e questionar. Mas corrupção? Não sejam idiotas.”
A investigação mostra que a família Bukele multiplicou por 12 vezes a quantidade de terras que possuía antes de chegar ao poder e adquiriu 34 propriedades de luxo e fazendas de café, totalizando 231 hectares, avaliados em 92 milhões de dólares.
O presidente Bukele tem construído sua imagem em torno da questão da segurança. Ao reduzir a taxa de criminalidade, ele vem acumulando popularidade suficiente para buscar a reeleição, embora a Constituição do país não a permita.
A remodelação do centro histórico de San Salvador tem sido um dos objetivos constantes de Bukele desde que atuou como prefeito da capital (2016-2019). Entre as estratégias aplicadas está a negociação secreta com as gangues MS-13 e Barrio 18 para que desocupassem o centro histórico.
Abominação
Na semana passada, Jaime Quintanilla, jornalista que liderou a investigação, revelou que a empresa Lagencia, com a qual Karim Bukele comprou o edifício no centro histórico, “não apresentou seus balanços ao registro público, como exige a lei em El Salvador” (La Nación, 15 de outubro).
Irritado, Karim respondeu no X: “Vou deixar a tarefa para você, para que continue a marinar na sua ‘abominação’ contra nós.”
O irmão do presidente alegou ter transferido uma “pequena casa herdada” como pessoa física para o nome da empresa, a fim de transformá-la em um negócio.
A Associação de Jornalistas de El Salvador emitiu uma declaração a respeito: “A APES apela ao governo do presidente Bukele para que deixe de estigmatizar, ameaçar e vigiar os jornalistas, cuja única missão é monitorar o uso e abuso do poder.”
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