A denúncia de rachadinha na Assembleia Legislativa em São Paulo é uma faísca da fogueira que arde no PSL, o partido que Jair Bolsonaro usou para se eleger presidente. Mas a disputa no Legislativo de São Paulo pode envolver questões mais abrangentes.
O autor da denúncia contra Gil Diniz, Alexandre Junqueira, conhecido como Carioca de Suzano, se apresenta como fã de Jair Bolsonaro, mas o jogo que faz parece atender ao interesse do principal adversário dele hoje no campo da direita: João Doria.
Gil Diniz é líder do PSL na Assembleia, partido que decidiu fazer oposição ao governo do Estado de São Paulo. Gil Diniz também é apontado como obstáculo para as pretensões da deputada Joice Hasselmann, sua colega no PSL, de se candidatar a prefeita.
Joice Hasselmann está no PSL, mas é politicamente próxima de Doria, cujo partido, o PSDB, tem como candidato à reeleição Bruno Covas. Doria teria, portanto, duas canoas para a travessia das eleições do ano que vem.
Junqueira seria um peão nesse jogo bruto.
Sem ocupação profissional conhecida desde que deixou a assessoria de Gil Diniz, em julho deste ano, viajou para Paris, Hong Kong e Indonésia, ao mesmo tempo em que sua esposa, Sol Junqueira, protocolava a representação na Procuradoria de Justiça contra Gil Diniz.
Quem custeia a viagem dele? Ele próprio?
O que se pode afirmar é que a proximidade que Junqueira diz ter com a família Bolsonaro decorre, em grande parte, da própria ligação com Gil Diniz, que era assessor de Eduardo Bolsonaro até se candidatar a deputado estadual.
Por exemplo, a foto que o jornal O Globo publicou que o mostra abraçado a Flávio Bolsonaro foi tirada no último Reveillon em Brasília. Ele não estava lá por conta própria, mas acompanhando Gil Diniz, em cuja campanha trabalhou.
O Reveillon foi uma festa antecipada da posse de Bolsonaro, dia 1o. de janeiro.
Se ele se diz fã de Bolsonaro, divulgar a foto abraçado a Flávio, num momento em que aparece como denunciante do esquema de rachadinha, não faz sentido.
Qual é o primeiro nome que vem à cabeça quando se fala do crime da rachadinha? Flávio.
É para queimá-lo.
O PSL em São Paulo, a exemplo do que ocorre no Brasil, pega fogo por conta da disputa por um orçamento de algumas dezenas de milhões de reais, que compõem o fundo partidário.
Quem controlava o partido era o senador Major Olímpio, que se afastou para dar lugar a Eduardo Bolsonaro.
O vice-presidente dele é Gil Diniz. Atingindo Gil Diniz, atinge-se também, indiretamente, Eduardo. Esta é outra hipótese para a denúncia.
Major Olímpio, chamado de “bobo da corte” por Carlos Bolsonaro, está em guerra aberta com a família. Da boca para fora, diz apoiar Bolsonaro, mas assinou o requerimento que cria CPI da Fake News e defendeu a saída de Flávio do partido.
O que não faz sentido é imaginar que o Carioca de Suzano, três meses depois da demissão, seja tomado pela indignação e resolva denunciar o antigo chefe.
Por outro lado, não faz sentido que o Carioca de Suzano recebesse R$ 15 mil de salário da Assembleia para não fazer nada. O salário elevado é compatível com a denúncia de que ele tenha sido fixado para desviar recursos públicos.
Tem muita fumaça nesta história da rachadinha em São Paulo, e sua exposição mostra que a classe política que emergiu em 2018, na estrada aberta pela farsa do combate à corrupção encetado pela Lava jato, levou ao poder gente absolutamente estranha e desqualificada.
Não é exagero dizer que o PSL pega fogo. Ou seria cabaré?