Enquanto toda a polícia do Rio de Janeiro — pelo menos parecia que toda a polícia carioca estava lá no sábado à noite –, cuidava de uma reintegração de posse absurda (era o dono do lugar – o povo – que o ocupava), a menina Rebeca Carvalho, de 9 anos, estava sendo estuprada e assassinada na favela da Rocinha.
A barbárie do sábado se repetiu ontem durante todo o dia, avançando pela noite, com cenas de guerra e mais arbitrariedades inaceitáveis.
E com PMs numa quantidade inimaginável. Nunca soube que havia tanta polícia assim. Por que a gente nunca vê esse policiamento todo nas ruas? Se assim fosse, não nos sentiríamos numa situação de tanta insegurança. Contra perigosíssimos professores a PM demonstra uma valentia que lhe falta nas áreas realmente carentes de coragem (os professores já haviam apanhado em outras duas oportunidades na semana retrasada na Secretaria de Educação).
Os professores do Rio estão em greve há 45 dias, exigindo algo básico a qualquer trabalhador: um plano de cargos e salários. O que equivale a dizer que crianças estão sem aulas aos mesmos 45 dias. Por quanto tempo o prefeito Eduardo Paes levará este assunto como algo a ser desprezado, enquanto Cabral joga seus cães em cima de senhoras de 60 anos?
O festival de horrores a que as noites cariocas têm sido submetidas ultrapassou os limites. Há meses.
Táticas militares contra professores, acuando-os dentro da Câmara (enquanto a nova celebrity Comandante Mauro – E10 – distraía-os por uma porta, um destacamento invadiu o local pela outra) sem um documento legal que exigisse a desocupação. Havia sido apresentado uma ordem judicial de mais de um mês antes, a mesma que foi utilizada contra estudantes que fizeram a ocupação em protesto pela CPI dos transportes.
Bradando uma lei inconstitucional, policiais mascarados e sem identificação promovem a detenção de manifestantes mascarados sob alegação de anonimato (quando questionados, respondem com um “não te interessa”); ruas bloqueadas por cordão de PMs impedindo moradores de alcançarem suas casas; as fajutagens de infiltrados lançando molotovs contra as próprias tropas para incentivar a violência digna de filmes de terror; a criação da tal CEIV (Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas) com poderes de quebra de sigilos; o tratamento protecionista que dá para a grande mídia e as borrachadas na mídia independente. Medidas totalmente autoritárias no intuito de impedir o cidadão de manifestar-se.
O Rio está em maus lençois. Cabral é um animal político morto. Em razão disso apertou o botão do “dane-se” (para não baixarmos o nível). Ele sabe que não tem o menor futuro e resolveu jogar o jogo de guerra. Deveria ter um mínimo de dignidade, arregaçar as mangas e consertar o máximo possível de estragos que causou em vez de ficar vendo coisas ao evocar a “interferência de movimentos internacionais” que estariam querendo “desestabilizar sua gestão”.
Tenha dó. Cabral está conseguindo a proeza de piorar ainda mais a situação a cada noite que passa. E ainda falta um ano para ele desocupar a cadeira, mesmo que seja sem spray de pimenta.