Cada dia de permanência do mercador da morte na presidência amplia a tragédia. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 22 de abril de 2020 às 21:16

Publicado no Facebook do autor

Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá e Sérgio Lima/ AFP

POR LUIS FELIPE MIGUEL

Nos últimos dias, mais ou menos desde que o novo (e sumido) ministro da Saúde tomou posse, os números de novas mortes pelo coronavírus no Brasil têm ficado abaixo do que a curva até então desenhada sugeriria. Também parecem pouco condizentes com o que se lê e se vê da situação nos hospitais – e nos cemitérios.

Não estou dizendo que haja uma conspiração para esconder os números reais – embora essa hipótese tampouco possa ser descartada. Há uma enorme subnotificação de casos, agravada pela gritante insuficiência de testes.

Creio que só teremos uma ideia da dimensão da pandemia no Brasil por aproximação, comparando, em cada região, o número de mortes e internações por insuficiência respiratória com a série histórica para a mesma época do ano.

O que espanta é que, nesse momento, sem termos sequer um diagnóstico claro da situação, sem nenhuma evidência de que a contaminação esteja sob controle, sem qualquer estimativa séria da capacidade de resistência dos sistemas de saúde, sem que estejamos prontos para uma testagem maciça, a gente esteja vendo praticamente uma corrida de governadores e prefeitos para ver quem libera mais e mais rápido.

A ausência de uma coordenação séria, a nível nacional, para enfrentar a pandemia cobra um alto preço. Os governantes locais (vindos, como sabemos, das eleições de 2016 e 2018, que consagraram uma grande proporção de oportunistas despreparados) têm menos capacidade de resistir às pressões de empresários inescrupulosos, que se tornou ainda maior com a esperança de meter a mão no auxílio emergencial aprovado pelo Congresso. Quando essa pressão ganha um reforço do Planalto, então, é pior ainda.

Cada dia de permanência do mercador da morte na presidência da República amplia a tragédia. Cada dia será contado em mortos.

É parte da tragédia o fato de que muito da oposição, tanto conservadora quanto de esquerda, esteja paralisada pela covardia e pelo cálculo eleitoral – ou mesmo priorize as disputas internas em seus partidos em relação à tarefa urgente de tentar salvar o Brasil.