Calor vai matar mais que o frio no mundo, diz levantamento

Atualizado em 31 de agosto de 2024 às 8:50
Homem se refresca no calor. Foto: ilustração

A relação entre o envelhecimento da população e as mudanças climáticas é um tema central no Século XXI, trazendo implicações profundas para a saúde e o bem-estar das sociedades. No Brasil, uma onda de frio recente provocou mortes por hipotermia, mas a principal preocupação para o futuro é o aumento de mortes que as altas temperaturas podem causar.

Enquanto muitos questionam as evidências de um planeta em aquecimento, pesquisas recentes mostram que o impacto das mudanças climáticas será devastador, especialmente para a população idosa. Um estudo liderado por David García-Léon, do Centro de Pesquisa da Comissão Europeia, publicado no The Lancet Public Health, analisou as consequências das mudanças climáticas para a longevidade em 1.368 regiões de 30 países europeus.

Os resultados indicam que as mortes por calor podem triplicar na Europa até 2100, com um aumento significativo nas regiões do sul, como Espanha, Itália e Grécia. Em contrapartida, as mortes por frio, que atualmente superam em oito vezes as causadas pelo calor, devem diminuir ligeiramente até o final do século.

O estudo também destaca que as mortes ocorrerão majoritariamente entre pessoas com mais de 85 anos, grupo vulnerável aos extremos climáticos.

No Brasil, onde a população envelhece rapidamente e a expectativa de vida média já alcançou 76,4 anos, a situação se agrava devido à falta de infraestrutura adequada para enfrentar as variações climáticas. As favelas, com suas construções autônomas e materiais inadequados, como telhas de zinco, exemplificam a precariedade que aumenta o risco de mortes por calor e frio.

Onda de calor sobre São Paulo. Foto: Phillippe Lejeanvre

Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alertaram, há mais de uma década, para as consequências da transição demográfica e climática no Brasil. José Féres e Camilo de Moraes Bassi apontaram que o envelhecimento populacional pode ter impactos positivos e negativos no meio ambiente, dependendo do padrão de consumo e das condições de prevenção aos eventos extremos.

Bassi sugeriu em entrevista ao G1 que o envelhecimento poderia significar uma “poupança ecológica”, devido ao menor consumo de recursos naturais pelos idosos. No entanto, garantir o bem-estar na velhice em um cenário de mudanças climáticas exige políticas públicas robustas e uma Política Nacional de Cuidado que leve em conta as desigualdades sociais e os desafios ambientais.

A intersecção entre demografia e clima demanda novas investigações para evitar mortes desnecessárias e assegurar a promessa da longevidade humana. As políticas de prevenção devem ser ampliadas e adaptadas ao contexto ambiental e epidemiológico, especialmente em um país marcado por desigualdades abissais como o Brasil.