O afilhado de Aécio Neves Antonio Anastasia afia as suas armas para tentar voltar a governar Minas Gerais e reeditar a farsa do choque de gestão, que adubou o terreno para que o Estado entrasse na crise financeira em que hoje se encontra.
E, para isso, se encontrou com antigos aliados na Polícia Civil do Estado. Na sexta-feira passada, o senador participou de um encontro com a velha cúpula da Segurança Pública no Estado, na sede da Associação dos Delegados (Adepol).
Estavam lá Márcio Nabak e Vicente Ferreira Guilherme, que trabalhavam na Divisão de Operações Especiais (DEOESP) quando a Lista de Furnas foi divulgada pelo lobista Nílton Monteiro, com a relação de políticos que receberam recursos desviados da estatal, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Na lista, elaborado pelo então diretor de Furnas, Dimas Toledo, apadrinhado de Aécio Neves, aparecem nomes como José Serra e Geraldo Alckmin, além do próprio Aécio e outras figuras na época menores, como os deputados Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha.
Também é citada Andrea Neves, irmã de Aécio, como responsável pela indicação de políticos mineiros para receberem recursos.
Também está na lista o deputado tucano João Leite, que pressionou o governo atual de Minas para tirar da delegacia de investigação sobre fraudes Rodrigo de Bossi, que investigou o esquema montado para abafar denúncias de corrupção contra Aécio, entre os quais a Lista de Furnas.
João Leite não conseguiu remover o delegado, apesar dos discursos duros feitos da tribuna da Assembleia Legislativa do Estado.
Isso só aconteceu quando o MDB, por razões eleitorais, participou da articulação com o PSDB para travar a pauta do legislativo e impedir que o governo de Fernando Pimentel obtivesse autorização para operações de crédito necessárias para pagar o salário do funcionalismo.
Jogo político pesado.
Como pesada foi a atuação dos policiais Nabak e Vicente durante os governo de Aécio e Anastasia. A Lista de Furnas foi tão impactante que, mostrada aos parlamentares tucanos que investigavam o mensalão em Brasília, ajudou a reverter a ofensiva contra o PT, em 2005.
Mas, depois disso, quando deveria ter sido investigada, o curso se inverteu. Apoiando-se em perícias que, agora, se revelam falsas, Nabak indiciou o lobista Nílton Monteiro, que acabaria preso sem condenação, entre 2013 e 2014, pela acusação de estelionato.
Quem atestou a vericidade da lista foi a Polícia Federal, em outra investigação. Mas, quando veio a público, já era tarde: Nílton já tinha sido apresentado em publicações nacionais, entre elas a Veja, como o grande falsário.
Como fruto da mesma armação, em inquéritos que não param de pé tamanhos os furos, o advogado de Nílton Monteiro, Dino Miraglia, teve a casa e o escritório revirados pela Polícia Civil, numa ação que contou com helicóptero e a presença da imprensa.
Marco Aurélio Carone, dono do site Novo Jornal, um dos poucos que publicavam notícias críticas sobre os governos Aécio/Anastasia, foi preso, e o editor-chefe, Geraldo Elísio, o Pica-Pau, experiente jornalista, Prêmio Esso, também foi alvo de uma operação de busca e apreensão.
Todos colocados no balaio de que publicavam notícias para extorquir dinheiro de políticos e empresários, denúncia nunca comprovada.
No que diz respeito à violência do Estado contra adversário do governo, a administração Aécio/Anastasia foi um terror. Para ações abusivas, a Polícia Civil contava com aliados no Ministério Público e no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.
Mais recentemente, nos inquéritos conduzidos por Rodrigo de Bossi, essa estrutura de poder começou a ser esquadrinhada, inclusive com o depoimento do publicitário Marcos Valério, pendente de homologação judicial.
Rodrigo de Bossi não dá entrevista, mas quem acompanhou parte dos depoimentos de Valério diz que o publicitário, como operador financeiro do esquema tucano, contou que a ação dos policiais na época de Aécio/Anastasia foi decidida em reunião no ano de 2008.
O plano era transformar o lobista Nílton Monteiro em um grande falsário, para tirar a credibilidade da Lista de Furnas. Protegido do deputado Sergio Naya, grande financiador da política no Estado, Monteiro cai em desgraça em 2010, um ano depois da morte do padrinho.
Mas, segundo Valério, não ficou barato.
Quem pagou pelas falsas perícias e inquéritos armados foi Oswaldo Borges da Costa Filho, amigo de Aécio Neves, já investigado por corrupção em operações que se desdobraram da Lava Jato. Borges seria o intermediário das propinas acertadas pelo ex-governador.
O encontro de Anastasia com os antigos delegados de Minas Gerais trouxe à lembrança de uma nova geração de policiais no Estado esquemas que muitos já imaginavam enterrados, sepultados juntamente com a biografia de Aécio Neves (hoje ele tem ficha corrida).
Mais do que lembrança, temor. Anastasia é a face desse dragão de sete cabeças: algumas foram destruídas, mas o monstro continua vivo e luta para reassumir o poder na sua plenitude.
Minas permitirá?