Candidata em Guarulhos passa cheque sem fundo de R$ 447 mil e tem conta bloqueada

Atualizado em 20 de agosto de 2024 às 10:44
O cheque assinado por Fran Corrêa (MDB), candidata em Guarulhos: devolvido por falta de fundos (crédito: TJ-SP)

A candidata a vice-prefeita de Guarulhos Francislene Assis de Almeida Corrêa (Fran Corrêa, do MDB) teve mais de R$ 447 mil de suas contas bloqueadas graças a um cheque sem fundo que passou em 2023.

É o que mostram os autos do processo de execução que recai sobre a candidata na Justiça de São Paulo, aos quais o DCM teve acesso. A emedebista é esposa do secretário executivo de Desenvolvimento Urbano e Habitação do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Eli Corrêa Filho (União-SP).

Veja, abaixo, trechos do processo de execução, movidos por uma empresa gráfica que prestou serviços à candidata. Os destaques foram inseridos pela reportagem do DCM, que também cobriu o endereço residencial de Fran Corrêa.

De acordo com a empresa que tomou o calote, a candidata sustou um cheque de R$ 447 mil (crédito: TJ-SP)
A parte de trás do cheque de R$ 447 mil de Fran Corrêa, com o carimbo: “Devolvido pelo banco sacado” (crédito: TJ-SP)

Quer dizer: Fran Corrêa passou um cheque de R$ 447 mil a uma gráfica. O fez utilizando um cheque de pessoa física, que não era administrativo (com garantia de fundos do próprio banco que emite o cheque), e o cheque voltou porque foi sustado.

O processo de execução da dívida teve início no dia 16 de junho do ano passado. A Justiça tentou por um mês entregar a notificação em alguns dos endereços de Fran Corrêa (que é empresária do ramo imobiliário), sem sucesso: ela nunca estava no local e ninguém poderia receber em seu nome.

Assim, ela teve que ser notificada por carta, e em casa recebeu o aviso do protesto sobre seu nome, do 1º Tabelião de Notas e Títulos de Guarulhos. Aí, sim, resolveu aparecer no processo, mostrando-se surpresa com tudo aquilo, como disse seu advogado à Justiça, no dia 19 de julho do ano passado:

Advogado de Fran aparece no processo após a cliente ter seu nome protestado, e diz que isso a tinha surpreendido (crédito: TJ-SP)

Os representantes da emedebista argumentaram na Justiça que aquele cheque estava com uma data que não era a que originalmente fora transferido à gráfica em questão. Segundo a defesa de Fran, ela passara aquele cheque em 2019, o que faria com que já estivesse prescrito, com a empresa que recebeu sem mais direitos de poder descontá-lo.

A Justiça não se convenceu com a conversa da candidata (quiçá nem ela mesma). No dia 14 de setembro do ano passado, conforme se pode verificar nos autos do processo TJ-SP 1028618-42.2023.8.26.0224, o juiz
Domicio Whately Pacheco e Silva, da 7ª Vara Cível de Guarulhos, decretou o bloqueio de R$ 518 mil das contas bancárias de Fran Corrêa, valor correspondente ao que devia a candidata, mais juros, correção e multa.

Foram, então, encontradas pelo Banco Central nove contas da candidata no sistema bancário brasileiro. Veja abaixo.

As nove contas que Fran Corrêa mantém no sistema bancário brasileiro foram bloqueadas pela Justiça em outubro do ano passado (crédito: TJ-SP)

À Justiça Eleitoral, Fran Corrêa declarou ser dona de um patrimônio de mais de R$ 40 milhões. Apesar disso, em suas contas bancárias, foram encontrados apenas R$ 79 mil, que foram prontamente bloqueados para pagar o cheque sem fundo.

Como o valor era insuficiente para sanar o débito, a empresa que tomou o calote solicitou à Justiça, em março deste ano, que bloqueasse o automóvel comumente utilizado pela emedebista (de valor declarado de R$ 362 mil), a fim de levá-lo a leilão e assim obter mais uma parte do pagamento.

Sem encontrar dinheiro nas contas de Fran Corrêa, a Justiça recebe pedido para penhorar um carro da candidata a vice-prefeita de Guarulhos (crédito: TJ-SP)

No dia 20 de maio, porém, o credor teve mais uma desagradável surpresa. Atendendo a solicitação judicial, o Detran-SP informou que aquele veículo não mais se encontrava em nome da candidata Fran Corrêa, e sim na da empresa de cobranças de dívidas “Rexa Cobranças LTDA”.

Veículo utilizado por Fran Corrêa está em nome de uma empresa de cobranças de dívidas de Minas Gerais (crédito: TJ-SP)

Assim, coube ao credor ir atrás de outra possibilidade de penhora de bens, para finalmente receber o que lhe deve a deputada. No dia 17 de julho, a gráfica que tomou o calote entrou com pedido para o bloqueio de recebíveis de algumas das empresas de que Fran é proprietária. Recebíveis são valores que uma empresa ou pessoa tem a expectativa de receber em futuro próximo, conforme contratos já assinados com quem irá pagar.

No dia 8 deste mês, a Justiça acatou o pedido e notificou duas empresas que têm contratos com as companhias imobiliárias da emedebista, solicitando que, ao chegar a data de pagamento dos recebíveis, o depósito seja feito em conta judicial.

É como diz o ditado: devo, não pago, nego enquanto puder.

Fran Corrêa e seu marido, Eli Corrêa Filho: dono de uma série de empresas imobiliárias e secretário de Habitação de Tarcísio de Freitas (crédito: arquivo pessoal)