Há um padrão nos Bolsonaros — posto que se trata de um clã no poder — que se repete tanto para efeito externo quanto interno.
Se agem como leões com Venezuela e Cuba e como gatinhos sabujos com os EUA, repetem esse modelo com o vice Mourão.
O general está livre, leve e solto, falando pelos cotovelos, contradizendo o chefe (ao menos pro forma) em temas-chaves da administração.
Garantiu ao embaixador da Palestina que não há plano sobre Jerusalém, defendeu que Lula deveria ir ao funeral do irmão por “questão humanitária”, afirmou que “aborto deve ser uma decisão da mulher” etc etc.
O papel de tentar enquadrar Mourão fica delegado ao guru Olavo de Carvalho, em vídeos e postagens constrangedores, e aos milicianos virtuais paranoicos que vivem de lamber o saco de Jair.
O desencontro e a bateção de cabeça são evidentes e você não precisa ser um astrólogo como Olavo para ver que isso não vai acabar bem.
Ao Globo, Mourão fez uma revelação inacreditável — mesmo em se tratando desse circo — sobre o nível de desentendimento da dupla: “As únicas vezes que o presidente conversou comigo foram durante a campanha eleitoral.”
Você não precisa ser um picareta especializado em cursos sobre gestão para saber que não tem como um time dar certo jogando dessa maneira.
A pergunta óbvia é a seguinte: por que Bolsonaro não telefona para Mourão e tenta combinar qualquer coisa?
Primeiro, porque Bolsonaro, acuado pelo escândalo do filho Flávio, não tem ideia de para onde vai.
Depois, porque capitão não manda em general. Como todo falastrão, ele tem medo.
Por medo, ele se deixa montar, fisicamente, por seu segundo.
Porque sabe que terá novamente a sensação de quando foi assaltado e entregou tudo: “Mesmo armado, me senti indefeso”.