A Organização Mundial da Saúde nunca contraindicou vacinação de adolescentes na pandemia.
Ao contrário. Desde que se tenha o imunizante, todos, inclusive essa faixa etária, devem se vacinar, segundo a entidade.
Isso não importa para Bolsonaro e seguidores do seu governo genocida.
A deputada Carla Zambelli, por exemplo: em sua página no Twitter, ela espalha a mesma fake news dita pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em live, e que foi desmentida pela própria Anvisa em nota púbica.
“Em convergência com a UNICEF e OMS, NÃO recomenda vacina contra Covid-19 em crianças e adolescentes que não tenham comorbidades, tampouco considera correta a exigência de vacinação para frequência a escolas”, escreveu a bolsonarista, ao compartilhar um trecho da live.
Zambelli merece prisão.
ATENÇÃO!
O @minsaude, em convergência com a UNICEF e OMS, NÃO recomenda vacina contra Covid-19 em crianças e adolescentes que não tenham comorbidades, tampouco considera correta a exigência de vacinação para frequência a escolas. pic.twitter.com/ghHLv68V1R
Tenho um filho de 13 anos, Mateus, e uma menina de 17, Alice.
Crio os dois sozinho – minha mulher teve um câncer devastador e nos deixou há dois anos.
Na pandemia, prevendo as noites de terror que viveríamos, optei por sair de São Paulo. A ideia era evitar que nossa vida virasse um caos.
As crianças perderam a mãe, a casa, os amigos, a escola, a cidade e foram cair de paraquedas num local estranho.
Sábado passado eu estava de folga. Fui a um churrasco com amigos. Alice me ligou às 19h e combinamos de ir buscar o irmão no clube.
Eu estava exausto. No meio do caminho, parei o carro e dormi. Acordei uma e meia da manhã. Nem sei dizer quantas mensagens tinha no meu celular. Familiares acudiram os dois.
Foram ao hospital, à delegacia e nada de me encontrar.
O fantasma da perda é uma constante no imaginário das crianças. Alice já estava fazendo planos de como iria cuidar do Mateus sozinha.
Na segunda, ainda impactada pelo susto, agendou a primeira dose da vacina para ela e o irmão. Confesso o que não imginava o que a imunização representava para os dois.
Foi como tivessem tirado um peso das costas. Nossa família continuaria em pé. Viva, juntos, enfim.
Esse testemunho não importa para o governo do meu país – óbvio que não sou pretensioso a ponto de imaginar que deveria.
O que chama a atenção é o descaso não com meu pequeno mundo, mas com todos. A ponto do ministro da Saúde se juntar ao presidente da República e mentirem sobre a importância da imunização para adolescentes.
Chegam a dizer que a Organização Mundial da Saúde não recomenda a aplicação de doses a essa faixa etária.
Mentira. Essa nunca foi a orientação da OMS, pelo contrário. Diz que não é prioridade, mas tendo vacinas, reforça que todos devem se imunizar.
De resto, ainda desdenham a escola.
Alice estava certa ao se apavorar com meu simiço no sábado. Sabe que, exceção do pai e do irmão, está desemparada desde que a mãe se foi.