Algumas coisas nunca mudam.
Uma delas é o viralatismo sabujo de quem nunca passou por grandes necessidades, fez fortuna pegando carona nos contatos do papai e hoje renega tudo que não satisfaça o puído discurso da mais rasteira meritocracia.
Carlos Alberto da Nóbrega, o velho apresentador do humorístico A Praça é Nossa, é um desses iluminados para quem aparentemente o valor e a capacidade intelectual e laboral de alguém só podem ser medidos através de um diploma formal universitário.
O que não deixa de ser curioso para um advogado formado em direito pela UFRJ que praticamente não exerceu a profissão e só viu sua vida realmente galgar novos patamares numa área para a qual até hoje não possui formação superior convencional.
A coisa veio à tona na entrevista que concedeu ao programa Roda Viva (onde mais?) ao ser questionado sobre que pergunta faria ao presidente Lula se este aceitasse o convite para participar de seu podcast.
Pois bem! Das inúmeras indagações que qualquer pessoa minimamente sensata poderia fazer ao único homem de um país de mais de 200 milhões de habitantes que conseguiu chegar à presidência da república pela terceira vez, o que ocorreu a Nóbrega lançar luz sobre a biografia de um estadista hoje celebrado no mundo inteiro foi:
“O que o senhor me explica de um presidente da república no dia que recebe o diploma de presidente chora e diz que é o primeiro diploma que ele recebeu na vida?”
E não satisfeito, complementou:
“O homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil, qualquer coisa que seja, ser presidente da república… É por isso que o país está desse jeito”.
Particularmente não sei qual o nível de conhecimento que esse senhor possui acerca de política internacional, mas é provável que chegasse às barras da loucura se soubesse que os Estados Unidos da América, a Meca de tudo o que é bom e meritocrático pra esse gente, abrigou pelo menos uma dezena de presidentes sem o tão valorizado bibelô para pendurar na parede.
O viralatismo desse senhor encontra-se no fato de que ninguém duvida que ele admire por demais a história de um Abraham Lincoln, o cidadão criado numa família humilde que chegou a afirmar que quando atingiu a maioridade “não sabia muito”, mas que ainda assim acabou por se transformar no 16° presidente dos Estados Unidos.
Lincoln, sem diploma, aboliu a escravidão em seu país. Lula, sem diploma, tirou o Brasil do mapa da fome no planeta. Mas para Nóbrega, só o segundo deve ser cobrado pela falta de conclusão de um ensino superior.
Mas daí que é no complemento de sua fala que o seu viralatismo galopante encontra a sabujice.
Quase que tentando se recuperar de uma escorregada, eis que o sujeito que não admite ninguém que não tenha um diploma universitário na liderança de um grande projeto, acaba por abrir uma brecha para quem tem curso ginasial, universitário, contábil, qualquer coisa que seja…
Ah! A bajulação!
Não foi por acaso que Carlos Alberto de Nóbrega voltou um passo atrás ao admitir que alguém em grande posição possa prescindir de um diploma universitário e ter tão somente um curso “ginasial”, algo técnico como na área de… “contábil”.
Afinal, quem mais não possui diploma superior e ficou apenas num curso técnico de contabilidade foi ninguém menos do que o seu patrão, Senor Abravanel, mais conhecido como Silvio Santos.
Dada as concepções de Nóbrega para a relação umbilical entre diploma superior e capacidade de empreendimento e liderança, nada mais justo seria que o estreante em canais de podcast também fizesse ao homem que paga o seu salário a mesmíssima pergunta que pretende fazer com tanto furor a Lula.
Isso, claro, se aliado ao viralatismo e à sabujice, a covardia e incoerência tão típicos nessa gente não se fizesse também presente.