Poucos se lembram do programa Pró-Brasil, apresentado pelos generais e derrubado por Paulo Guedes e pelos empresários como algo anacrônico dentro de um projeto de radicalização do liberalismo entreguista.
Na famosa reunião ministerial do dia 22 de abril, aquela da boiada do Salles, dos vagabundos do Weintraub e das hemorroidas de Bolsonaro, Guedes chamou de ignorante o autor do programa, que apresentou e definiu sua ideia como uma espécie de Plano Marshall.
Guedes alertou, em tom professoral, como se estivesse falando com o pior aluno da sala de aula:
– Não chamem de Plano Marshall porque revela um despreparo enorme.
Pois o pai do tal plano de retomada do desenvolvimento, baseado essencialmente em investimentos estatais, é o chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto.
E Braga Netto, sempre apontado como tutor de Bolsonaro, foi quem, com o apoio de outros generais, apadrinhou a indicação do que deveria ter sido o novo ministro da Educação.
Foi ele quem apresentou Carlos Alberto Decotelli a Bolsonaro. O homem dos títulos falsos seria um nome para moralizar o Ministério, sem influência dos fundamentalistas.
Braga Netto teve azar. O programa Pró-Brasil parece enterrado e agora seu afilhado saiu sem ter entrado.
Decotelli apresentou-se como se fosse uma joia que o bolsonarismo tinha escondido em um relicário, para usá-la na hora certa.
Negro, conservador, professor com muitos títulos e respeitado pelos militares como oficial da reserva da Marinha. Não era nada disso. Nem oficial da reserva Decotelli é.
A direita parece ter um projeto de poder, até parece ter métodos, mas não tem quadros.
Decotelli era o que parecia ser e todos pensavam que talvez fosse, ou dito de outra forma: não era o que pensavam que outros achavam que seria. Ok, é complicado saber o que ele é.
O candidato era vagamente conhecido de Paulo Guedes e dos militares, por ser bom de fala, mas era na verdade apenas um sujeito disponível que alguém viu passar e pensou: e o Decotelli?
Às vezes funciona, não muito com, Bolsonaro. Foi assim com Vélez Rodriguez, com Abraham Weintraub e agora com Decotelli.
Sinal de que os militares não têm nem mesmo bons informantes que possam alertar: cuidado, aquele não.
Os generais de 64 tinham tantos informantes que, no time de civis e militares que levaram para os governos, só havia a elite da elite. Os medianos eram exceção. Os medíocres se protegiam no brilho dos quadros de primeira linha.
O bolsonarismo é tão raso que não consegue nem mesmo escolher um ministro, numa sequência de erros em que o sucessor é sempre pior do que o antecessor.