Jesus disse que os escândalos seriam inevitáveis, porém, advertiu: “ai daquele homem por quem o escândalo vem”[1]. Parafraseando o apóstolo Pedro, por causa desses o caminho da verdade é blasfemado, pois movidos de ganância fazem do Evangelho um lucrativo negócio.[2]
Mais uma vez, a atenção da mídia se volta para você. Não por sua obra, nem pela agenda conservadora e fundamentalista que defende, mas pelo indiciamento numa investigação da Polícia Federal por lavagem de dinheiro batizada de Operação Timóteo. Aliás, não poderia haver um nome mais sugestivo, pois justamente em uma das epístolas de São Paulo a seu pupilo Timóteo que lemos:
“Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.”1 Timóteo 6:9,10
Como não poderia evitar, você veio a público vociferando, xingando o jornalista que teria publicado a matéria na Istoé de bandido, vagabundo etc. Postura bem diferente da encontrada n’Aquele a quem você diz servir, pois Jesus, “quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça.”[3]
Todavia, você tem o direito de se defender. O problema não é o tom de sua voz, mas a incongruência de seus argumentos. Você diz que não havia como saber a origem da tal oferta de 100 mil reais depositada em sua conta pessoal (geralmente, ofertas são depositas na conta da igreja). Ora, ora… vamos combinar: Não é todo dia que se recebe uma oferta tão vultuosa. Quem milita nesta trincheira sabe da dificuldade que é, principalmente em tempos de crise, quando as pessoas vendem o almoço para garantir a janta.
Pela sua linha de raciocínio, subentende-se que oferta é oferta, não importa de onde venha. Afinal, Jesus recebeu oferta até de uma prostituta, não é verdade? Mas, cá entre nós, o dinheiro advindo da prostituição é mais digno do que o da corrupção. A prostituta não tomou nada de ninguém, mas apenas negociou seu próprio corpo. Crianças não deixaram de receber sua merenda. Pacientes não foram negligenciados por falta de leitos nos hospitais. Famílias inteiras não deixaram de ser assistidas.
O mesmo Jesus que não demonstrou qualquer embaraço ao receber aquela oferta das mãos de uma meretriz, desafiando os escrúpulos religiosos de sua época, não recebeu oferta alguma de Zaqueu, cobrador de impostos cuja fortuna se originava da corrupção.
Pelo contrário, ao entrar em sua casa anunciando a salvação, ouviu dos lábios de seu anfitrião: “Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.”[4] O que você diria numa situação dessas, Malafaia? Você tentaria dissuadi-lo disso? Tentaria convencê-lo a ofertar o seu ministério em vez de reembolsar os que haviam sido lesados?
Sendo franco, não acho que você tenha agido com dolo. Mas, certamente, isso não lhe isenta de culpa. Para se defender, você atira para todo lado. Não poupa nem o rapaz que lhe ofertou. Mas não seria ele resultado do que você tão veementemente prega? O que teria levado um fiel a envolver-se em falcatruas e ainda por cima ofertar seu pastor predileto com o fruto de seu roubo?
Que tipo de mensagem ele tem ouvido do púlpito da igreja a que frequenta? Arrisco dizer que provavelmente seja o tal evangelho da prosperidade (aquele que você abominava no início de seu ministério, mas que abraçou quando se rendeu à proposta megalomaníaca de figurar entre os mais ricos pastores do país).
É o evangelho segundo São Maquiavel, em que os fins justificam os meios. Um evangelho que não esboça qualquer compromisso com a ética, mas apenas com uma agenda moralista visando o poder político a todo custo. Um evangelho que crucifica o homossexual, que insulta os fiéis das religiões de matrizes africanas, mas solta e acolhe Barrabás, um ladrão contumaz, e ainda o chama de irmão. Um evangelho que flerta com os poderosos enquanto menospreza os excluídos.
Você não sente saudade de quando subia ao púlpito para pregar sem se preocupar em defender-se das acusações dos que percebem sua incoerência? Não sente saudade daquele Malafaia que conheci cursando psicologia na Universidade Gama Filho? Bons tempos, não? Onde você se perdeu, amigo? Parafraseando São Paulo aos cristãos gálatas: Você corria tão bem. Quem o impediu de perseverar naquele caminho?[5]
Ainda há tempo de dar meia volta e se reencontrar consigo mesmo. Caso contrário, não será uma matéria que minará sua credibilidade, mas sua própria postura arrogante e intransigência. Lembre-se que você é referência para muitos jovens ministros. De quê serve ser uma referência de sucesso, mas não de integridade? De quê adianta figurar entre as fortunas elencadas pela Forbes e ser indiciado numa investigação de desvio de dinheiro público?
Pregue menos sobre riqueza e mais sobre caráter. Abandone a teologia da prosperidade e volte à pregação simples do evangelho de Jesus Cristo. Aquele mesmo que diz que a vida do homem não consiste na abundância dos bens que possui.[6]
Ainda dá tempo, Silas. Amanhã poderá ser tarde.
[1] Mateus 18:7
[2] 2 Pedro 2:2,3
[3] 1 Pedro 2:23
[4] Lucas 19:8
[5] Gálatas 5:7
[6] Lucas 12:15