Esta é mais uma carta de uma série que poderá ser transformada em livro sob o título de “Cartas aos Golpistas”.
Caro Romário:
Gosto muito de uma frase: “Só não me decepcionei com você porque nunca esperei nada de você.”
Acho que é uma frase minha mesma. Às vezes a uso brincando, outra a sério.
No seu caso, é a sério.
Se eu tivesse alguma expectativa sobre você, me teria desapontado com seu papel no golpe. Não. Papel, não. Papelão.
Não me refiro apenas ao sim no Senado. Falo também, e sobretudo, de suas artimanhas depois daquilo.
O senhor deu um drible na democracia e na integridade ao sugerir que poderia dizer não, em vez de sim, na sessão decisiva sobre o impeachment de Dilma.
Com isso levou um cargo. Mas perdeu a máscara de político sério.
O senhor sequer foi original. Repetiu a esperteza de Zezé Perrella, o amigo de Aécio em cujo helicóptero foi encontrada meia tonelada de pó de cocaína. O homem do helicoca.
Perrella, assim que encerrada a contagem de votos no Senado, anunciou numa entrevista à BBC Brasil: Temer está nas mãos dos senadores.
Perrella notou que bastariam três senadores mudando de lado na segunda e definitiva votação para Temer ir para a lata de lixo.
Mais do que uma contagem matemática, ele deu um recado. Ou fez uma chantagem. Poucos dias depois, o filho de Perrella recebeu um cargo na CBF. Perrellinha estava, ou está, tão envolvido no escândalo do helicoca quanto seu pai. Nominalmente, era o dono do helicóptero.
Temer entendeu o recado de Perrella. E você também. A visita que você fez a Dilma no Jaburu foi, vistas as coisas em retrospectiva, uma malandragem mais que qualquer outra coisa.
Caro Romário: você simboliza uma política putrefata. Será lembrado pela posteridade como um grande jogador — como poucos — e um político desprezível, como tantos que atormentam os brasileiros e impedem que nos transformemos numa sociedade avançada.
Com a bola, você não foi um enganador. Foi craque mesmo. Mas como político é um tremendo de um enganador, um golpista sem nenhum escrúpulo e sem outro interesse que não seja o próprio.
Antes de me despedir, lembro que ainda esperamos os devidos esclarecimentos sobre aquela conta milionária na Suíça que você disse que não era sua: ficou malcontada a história.
Sinceramente.
Paulo