Caso da pastora Flordelis é “trama digna de novela”, diz Le Monde

Atualizado em 12 de outubro de 2020 às 11:29
O site do jornal Le Monde descreve Flordelis dos Santos, de 59 anos, como “um personagem longe de ser banal”, pastora e cantora gospel que adotou dezenas de crianças das favelas e que se elegeu como deputada. © Fotomontagem RFI

Publicado originalmente no site da RFI 

O site do jornal Le Monde desta segunda-feira (12) publica uma matéria sobre a deputada federal e pastora Flordelis dos Santos, suspeita do assassinato do marido, um caso que mobilizou a opinião pública no Brasil e sacudiu a alta esfera do governo.

O jornal afirma que a trama é digna de uma novela, mas ao contrário dos enredos rocambolescos dessas tradicionais séries de TV no Brasil, a história envolvendo Flordelis dos Santos é bem real. A deputada federal do PSD é acusada de ter orquestrado, com a ajuda de vários de seus 55 filhos — 51 deles adotivos —, a morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, em 2019.

O correspondente do Le Monde no Brasil, Bruno Meyerfeld, descreve Flordelis, de 59 anos, como “uma personagem longe de ser banal”. A pastora e cantora gospel adotou dezenas de crianças das favelas, sendo ela mesma originária de uma comunidade de Jacarezinho, no Rio de Janeiro.

A matéria ressalta que foi desta forma que Flordelis conheceu Anderson do Carmo, adotado simbolicamente nos anos 1990, quando ele tinha 14 anos e ela 30. Quatro anos depois, os dois se casaram e se tornaram populares no meio evangélico. Em 2018, a “mãe das favelas”, como Flordelis é conhecida, chega à esfera política ao se eleger como deputada.

A morte de Anderson ocorreu um ano depois, na residência do casal em Niterói. O pastor foi baleado cerca de 30 vezes e, na frente da polícia e das câmeras de TV, Flordelis garantiu que o marido foi vítima de assaltantes. No entanto, no dia seguinte, os investigadores identificaram o autor dos tiros: um dos filhos biológicos de Flordelis, Flávio, de 38 anos. Lucas, de 18 anos, adotado pelo casal, é suspeito de comprar a arma do crime.

“Durante um ano, a investigação continua, os nós se desfazem, exibindo a verdadeira natureza da família”, indica Le Monde.

Incesto e abusos sexuais

Segundo testemunhas, o casal mantinha frequentes relações sexuais com alguns dos filhos. Flordelis teria inclusive oferecido as filhas adotivas de “presente” a pastores estrangeiros que viajavam ao Rio. Em agosto deste ano, o Ministério Público do Rio apontou que a pastora foi a arquiteta de todo o crime, encorajando e convencendo os filhos a participarem do assassinato. Mas Flordelis segue em liberdade porque está temporariamente protegida por sua imunidade parlamentar, destaca a matéria.

O dinheiro “o cerne do lucrativo culto evangélico brasileiro” seria o motivo do crime explica Le Monde. Os investigadores afirmam que Anderson exercia um controle muito rigoroso das finanças da família, contrariando a esposa. Mas Flordelis recusa a separação para não estragar a imagem de “pastora modelo”.

Decidida a eliminar o marido, ela tentou envenená-lo diversas vezes e terminou orquestrando seu assassinato, que a deputada desejou que fosse particularmemnte cruel, afirma a matéria. Segundo os investigadores, o filho que atirou contra Anderson visou sua região genital, deixando-o agonizar até a morte.

Le Monde destaca que o caso sacudiu Brasília, onde está em vigor um processo de cassação de mandato da deputada. O próprio presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, classificou o episódio de “muito grave e constrangedor”. Já Flordelis continua alegando que é inocente e chegou a prestar homenagem ao marido, recentemente, com uma mensagem de amor nas redes sociais.