A atriz Cássia Kiss é o retrato de um tipo de artista surgido nos últimos anos: o revoltado a favor.
Cássia andou organizando reuniões em sua casa com o procurador Deltan Dallagnol — que adorou, evidentemente, a oportunidade de conviver com nossas “celebridades”.
Em entrevista à Folha neste domingo, dia 3, ela se desmancha em elogios a Dallagnol. “É um homem brilhante, brilhante. Acho que é… olha, nem consigo achar um adjetivo para ele”, diz.
Sobre Sergio Moro, o caso é ainda mais delicado.
“É Moro na terra e Deus no céu”, declara. “Essa frase tem que ser gravada no Brasil inteiro. Não é possível alguém querer ir contra a Lava Jato.”
Segundo a reportagem, Cássia está preocupada com os rumos nacionais e por isso mergulhou em discussões políticas.
“Cada vez que eu tô no sinal dentro do meu carro e vejo aqueles boys maravilhosos de 30 anos vendendo guarda-chuva, negros lindos eles chegam perto de mim e eu penso: ‘África, nos perdoe, por favor!’. São tantos os homens lindos que não conseguem avançar por conta do Estado”, fala.
Cássia não é uma exceção. Diversas estrelas de TV saíram às ruas em protestos anti Dilma, vociferando barbaridades ao lado de boa parte da corja que ascendeu ao poder.
Hoje se reúnem no apartamento de Paula Lavigne, empresária de Caetano Veloso, para gravar vídeos contra o desmatamento da Amazônia, a favor do juiz Marcelo Bretas etc.
Faz sentido Caetano ao lado de Lucinha Lins e de um magistrado que se orgulha de usar a Bíblia como base para suas sentenças?
Faz, no nosso novo normal.
Se Cássia Kiss estivesse realmente preocupada com a situação brasileira, deveria começar sua briga, humildemente, no lugar onde trabalha.
Por que não batalha, por exemplo, por roteiros menos indigentes nas novelas?
Por que não faz um minuto de silêncio contra o sistemático emburrecimento da população promovido por gerações de autores e atores?
Por que não carrega faixas exigindo textos de, por exemplo, Nelson Rodrigues?
Ela sabe que a Globo tentou transformar a compra de direitos de uma Copa num investimento no exterior só para não pagar impostos?
Sabe que uma funcionária da Receita foi presa ao tentar dar sumiço a esse processo — dinheiro que poderia ser usado na construção de escolas, hospitais etc?
Cássia Kiss, como Susana Vieira, Nathália Timberg, Bárbara Paz, Luana Piovani e outros, é de uma canastrice e de uma auto-indulgência inacreditáveis.
A vanguarda dos protestos de artistas é formada por anciões intelectualmente limitados e fãs de savonarolas.
Como a Globo, Cássia é parte do problema e não da solução. Sua militância barulhenta e imbecil é a tradução do golpe para o mundo das artes e espetáculos.
Os dias serão assim.