Celso Amorim diz que Brasil não vai assinar tratado de “Nova Rota da Seda” com a China

Atualizado em 28 de outubro de 2024 às 13:23
Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República. Foto: reprodução

O governo brasileiro busca estreitar sua relação com a China em novos termos, sem comprometer-se com uma adesão formal ao programa chinês da Nova Rota da Seda, afirmou Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta segunda-feira (28).

“A palavra-chave é sinergia. Não é assinar embaixo, como uma apólice de seguro. Não estamos entrando em um tratado de adesão. É uma negociação de sinergias”, disse, indicando que o Brasil deve manter uma posição independente em relação ao projeto chinês, que já conta com a adesão formal de cerca de 150 países.

Amorim destacou que o objetivo do Brasil é aproveitar as oportunidades oferecidas pela China em áreas como infraestrutura, energia solar e veículos híbridos, mas sem a obrigatoriedade de formalizar essa adesão por meio de um memorando de entendimento. “Eles falam sobre cinturão, mas não é uma questão de aderir. Eles dão os nomes que eles quiserem para o lado deles, mas o que interessa é que são projetos que o Brasil definiu e que serão aceitos ou não”, completou.

A posição brasileira sobre o programa chinês foi reforçada pelo assessor durante uma recente missão à China. Ele revelou que as discussões sobre projetos bilaterais com a China também buscam envolver outras nações da América do Sul, ampliando o alcance regional dos benefícios econômicos e tecnológicos.

Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, e Wang Yi, chanceler da China, em Pequim. Foto: Yue Yuewei/Xinhua

Além da infraestrutura, esses projetos buscam reforçar a posição do Brasil no cenário geopolítico, com iniciativas conjuntas de paz para o conflito entre Rússia e Ucrânia. Amorim reforçou que o avanço na parceria Brasil-China é “uma visão do Brasil, de ter suas relações diversificadas e não ficar dependendo de um único fornecedor, ou um único parceiro”.

A visita de Estado do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, marcada para o próximo mês, à margem da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, é esperada como um marco para formalizar acordos que possam levar a relação entre os dois países a um novo nível, de acordo com Amorim. Xi deve trazer propostas que não só incluem investimentos no Brasil, mas também oferecem oportunidades de intercâmbio de tecnologia e inovação.

Recentemente, a posição brasileira foi alvo de comentários cautelosos por parte dos Estados Unidos. A representante de Comércio dos Estados Unidos, Katherine Tai, em um evento realizado em São Paulo, sugeriu que o Brasil deveria “ter cautela” em relação a uma eventual adesão ao programa da Nova Rota da Seda.

A declaração de Tai gerou uma resposta enérgica da China. Em nota oficial, a Embaixada chinesa em Brasília criticou as observações dos EUA, afirmando que “carecem de respeito ao Brasil, um país soberano, e desprezam o fato de que a cooperação sino-brasileira é igualitária e mutuamente benéfica”.

O Brasil mantém sua autonomia diplomática ao priorizar uma relação com a China sem comprometimentos formais, mas capaz de reforçar seus interesses econômicos e estratégicos. A visita de Xi Jinping ao país deverá consolidar os laços entre as duas economias, impulsionando setores diversos e estabelecendo uma nova fase de cooperação internacional que reflita os interesses e valores brasileiros.

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