O candidato a prefeito de São Paulo pelo Republicanos, Celso Russomanno, insiste na tentativa de censurar uma reportagem do DCM e também para fechar o site.
Na semana passada, ele perdeu a liminar, depois foi derrotado na decisão do mérito tomada pelo juiz da 2a. Zona Eleitoral de São Paulo, e esta noite recorreu para o Tribunal Regional Eleitoral.
Em nome de Russomanno, seus advogados atacam o DCM e a sentença do juiz, com mentiras facilmente verificáveis.
“A matéria, mentirosa e altamente ofensiva à imagem pública do recorrente, teve o objetivo de influenciar as eleições de 2012 e está sendo agora explorada por divulgadores anônimos no whatsapp. AINDA QUE NÃO FOSSE, A LETRA DA LEI ASSEGURA O DIREITO DO RECORRENTE DE ACIONAR ESSA JUSTIÇA ESPECIALIZADA POR POSTAGENS QUE ESTÃO NA INTERNET, AO CONTRÁRIO DO QUE DIZ A SENTENÇA. Pelo potencial que tem de manchar a reputação do recorrente, merecem retirada imediata. Isso está sendo feito às vésperas das eleições, com caráter eminentemente eleitoreiro, fazendo incidir a competência desse R. Juízo”, afirmam.
Não há no processo nenhuma demonstração de que a reportagem tem sido compartilhada por grupos de WhatsApp e, ainda que tivesse, o DCM não tem como evitar que isso ocorra.
A reportagem, aliás, é uma atualização de outra, feita por mim, que se encontra nos arquivos da revista Veja e que também, em tese, poderiam ser compartilhadas.
O texto original é de 1994, quando Celso Russomanno, então no PSDB, foi o deputado mais votado. A reportagem foi capa da revista Veja São Paulo e teve uma versão de duas páginas publicada na Veja nacional, em que eu era subeditor.
Em 2012, quando Russomanno era candidato a prefeito, o DCM me pediu para atualizar as reportagens. Foi o que fiz, sempre pautado pelo interesse público.
Nessa época, Celso Russomanno liderava a pesquisa e o eleitor tinha o direito de saber como ele entrou na política, e os fatos de interesse público atribuídos a ele.
Na contestação, o candidato mente ao dizer que, em 1994, quando fiz a reportagem, fui expulso da casa. Isso jamais aconteceu.
Passei o dia todo com ele, e a apuração terminou como descrevi no perfil publicado em Veja e, mais tarde, atualizado e publicado no DCM:
Na época, Russomanno vivia com a filha numa casa ampla no Real Parque, distrito do Morumbi, avaliada em 400 mil dólares. Ali foi feita a maior parte da entrevista. Já era noite e faltavam poucas horas para o fechamento da edição quando perguntei a ele sobre rumores de que a compra daquele imóvel tinha virado caso de polícia. Em resumo, a história era a seguinte: Russomanno comprara a casa por 300 mil dólares, com a facilidade de que a proprietária era mãe do segundo marido de sua sogra, Márcia Torres. O contrato tinha sido assinado por Berenice Ribeiro, cunhada de Márcia e procuradora da mãe. A dívida deveria ter sido quitada em cinco parcelas, mas Russomanno havia pago apenas 10 000 dólares e se recusava a discutir o restante até Berenice ameaçar levar o caso à imprensa. Russomanno deu mais 34 000 dólares e teria ameaçado matar um irmão de Berenice, José Carlos, se o caso se tornasse público.
Eu sabia que a ameaça tinha sido registrada em boletim de ocorrência, mas não conhecia a data nem o distrito policial. Portanto, com as informações de que dispunha, seria difícil publicar essa história. Ao ouvir o relato dos rumores, Russomanno fez cara de espanto e atribuiu o fato a uma fofoca. Numa tentativa de comprovar o que dizia, telefonou na minha frente para proprietária Berenice, e falou: “Imagina o que estão dizendo de mim, que eu ameacei seu irmão e não paguei a casa. O repórter está aqui. Fala para ele que isso não é verdade.” Russomanno me passou o telefone. Depois de me apresentar, Berenice afirmou, sem hesitar: “Ele é um farsante que está agindo de má-fé e colocou o dinheiro da minha casa na campanha política.” Em seguida, Berenice contou que temia que Russomanno dificultasse as visitas da família à filha de Adriana (a mulher de Russomanno que faleceu no hospital) no caso de um processo na Justiça para reaver a casa. “Ele é capaz de tudo”, disse. À medida que Berenice falava, eu repetia as palavras, para que ela confirmasse e Russomanno soubesse da gravidade dos fatos que eu ouvia.
Quando desliguei o telefone, Russomanno ameaçou: “Isso não pode ser publicado. Sou devedor inadimplente e a lei proíbe que se escrache quem deve, e eu vou pagar”. Vendo que não teria efeito, Russomanno fez um apelo. De mãos juntas, ele pediu: “Se você acredita que eu posso fazer alguma coisa boa por este país, pelo direito do consumidor, não publica isso. Vai ficar difícil para mim.” Respondi: “Sou um repórter e o que eu apuro é para ser publicado. Você também é repórter e, no meu lugar, o que faria?” A reportagem terminava com a frase: “O rolo do comprador Celso Russomanno seria um prato cheio para o repórter Celso Russomanno”. As informações publicadas nunca foram desmentidas, Russomanno disputou outras eleições, venceu mais três para deputado federal, perdeu uma para prefeito em Santo André e outra para governador do Estado. Hoje, lidera com folga as pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo.
No recurso, por meio dos advogados, Russomanno inventa uma versão:
“A reportagem impugnada não cita sequer UMA prova dos fatos. Apenas apresenta como fonte o relato de um jornalista, que foi expulso da casa do recorrente por ter desrespeitado sua família durante a reportagem que fez para a revista Veja, que, por sua vez, cita amigos da família de Adriana, sem indicar quaisquer nomes. A reportagem é integralmente FALSA, porque não tem base alguma e associa, levianamente, o recorrente a um oportunismo socialmente reprovável, que não existiu.”
O candidato, que deixou o PSDB faz tempo, passou pelo PP de Paulo Maluf e atualmente é aliado do bispo Edir Macedo e de Jair Bolsonaro, nunca contestou a reportagem, exceto agora.
Em 2012, depois que o texto foi publicado e teve grande repercussão, um emissário dele, com quem eu havia trabalhado em Veja, me procurou para propor que eu trabalhasse na campanha de Russomanno.
Um absurdo completo, que refutei, por entender que era eticamente insustentável.
Agora, ele quer simplesmente censurar o texto e, ainda, fechar um veículo de comunicação. Seu recurso termina assim:
Requer-se o conhecimento e o provimento do recurso, reformando-se a sentença recorrida, para julgar integralmente a representação proposta, determinando a exclusão definitiva do link impugnado, proibindo ainda os recorridos de reproduzir novamente e de republicarem a matéria falsa impugnada, bem como de difundirem seu conteúdo falso por qualquer meio ou veículo, especialmente Whatsapp, sob de desobediência e de multa a ser fixada pelo Tribunal. Ainda, requer-se a exclusão imediata do site recorrido infrator do ar, por se encontrar inconstitucionalmente registrado em domínio em que o titular é pessoa já falecida há mais de três anos.
Os advogados tentam induzir o Judiciário a erro, pois o cadastro do DCM já está atualizado.
O ataque de Russomanno não é apenas ao DCM. É à liberdade de expressão, que engloba a liberdade de imprensa.
Merece o repúdio de toda sociedade civilizada.
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Leia a reportagem que Celso Russomanno insiste em censurar