De Mafalda a Chico Buarque, veja as censuras de Bolsonaro no Enem

Atualizado em 20 de novembro de 2021 às 16:32
Bolsonaro com caneta
Jair Bolsonaro.
Foto: AP Photo/Eraldo Peres

Em fevereiro, a Câmara dos Deputados soube que uma comissão montada pelo governo Jair Bolsonaro para avaliar as questões aplicadas no Enem, em 2019, pediu a exclusão de 66 perguntas sem consultar a equipe do Inep.

As questões fazem parte do Banco Nacional de Itens. Entre elas, 18 eram itens pré-testados e 48 eram itens novos. De acordo com os avaliadores, essas perguntas apresentavam “leitura direcionada da história”, “leitura direcionada do contexto geopolítico”, e “polêmica desnecessária”. Em um dos itens, foi sugerido alterar o termo “ditadura” por “regime militar”.

De acordo com a reportagem da Piauí, a maior parte das perguntas foi censurada por provocar “polêmica desnecessária”. Ao todo, 28 perguntas foram excluídas e substituídas. Entre elas estavam questões sobre gravidez na adolescência, feminismo, religião e o contexto político e social dos últimos anos do Brasil.

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Censuras de Bolsonaro

Feminismo

Discutir feminismo, por exemplo, foi proibido na prova. Uma questão de ciências humanas que falava sobre a Marcha das Vadias, mostrando uma foto de mulheres de sutiã durante uma manifestação do grupo, foi barrada por gerar “polêmica desnecessária”.

Uma outra questão, dessa vez na prova de ciências da natureza, falava sobre os cuidados com relação ao vírus HIV e afirmava que o uso de camisinha é “o meio de prevenção mais barato e eficaz” contra a Aids. “Gera polêmica desnecessária / Direcionamento do controle de saúde”, assinalou a comissão.

Mafalda

Entre as questões retiradas estava uma tirinha de Mafalda, personagem de quadrinhos criada pelo cartunista argentino Quino. Em conversas com a mãe, com o pai e com os amigos de escola, a menina expressa seu inconformismo diante do mundo. Esse famoso diálogo entre Mafalda e sua mãe não agradou a uma comissão montada pelo governo. “Gera polêmica desnecessária”, concluiu a comissão, ao justificar por que decidiu censurar a questão que trazia a personagem argentina.

Segurança pública e maioridade penal

Uma outra questão falava sobre segurança pública e mencionava, em uma das alternativas de resposta, a violência da polícia na Bahia. Foi censurada por ser “ofensiva à força policial baiana”, apontou o trio de censores.

Uma questão que apontava problemas na redução da maioridade penal, tema defendido por Bolsonaro naquele ano, também foi reprovada.

Manoel de Barros, Laerte e Chico Buarque

Os documentos divulgados agora mostram que em 2019 houve censura até à poesia de Manoel de Barros. A questão surgiu de “O Livro das Ignorãças”.

A comissão de censura do Inep usou a palavra liberdade para proteger sentimentos religiosos. Mas ignorou-a ao excluir da prova de ciências humanas uma charge da cartunista Laerte que, segundo o registro dos servidores, propunha uma “reflexão crítica sobre o reconhecimento à diversidade na sociedade contemporânea”.

Outra questão, que citava uma letra de música escrita por Chico Buarque (não se sabe qual), foi censurada com a seguinte explicação: “Leitura direcionada da história / Sugere-se substituir ditadura por regime militar.” Os servidores pediram que a exclusão fosse revista.

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