O Cerrado já perdeu 26,5 milhões de hectares de vegetação nativa de 1985 a 2020 e a agropecuária é responsável por 98,8% do desmatamento.
Os dados foram divulgados em pesquisa publicada nesta sexta-feira (10), pelo projeto MapBiomas.
O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, com 198 milhões de hectares, porém, entre 2010 a 2020, a vegetação nativa reduziu cerca de 6 milhões de hectares.
O monitoramento mostra que o Mato Grosso foi o estado que mais permitiu a supressão de vegetação nativa e 6,8 milhões de hectares foram desmatados.
Em seguida vem Goiás, com 4 milhões hectares suprimidos, e Mato Grosso do Sul, com outros 3,4 milhões de hectares.
Tríade do desmatamento
A supressão da vegetação no Cerrado é motivada por três fatores, segundo o pesquisador: agricultura, pastagem e expansão urbana.
Entretanto, quase 99% foi de responsabilidade da agropecuária.
O estudo aponta que agricultura cresceu 460% no Cerrado desde 1985 e ocupa uma área maior que o estado do Paraná.
Outro exemplo citado é a Bahia, que quintuplicou área para cultivo em 36 anos.
Futuro em risco
Quase metade do Cerrado já foi desmatado e apenas 54,5% de seu território ainda é coberto por vegetação nativa, sendo que formações dos tipo savana (30,3%) e floresta (14,3%) são predominantes.
A formação campestre representa 7,3% do bioma.
Diante de uma das maiores crises hidrelétricas da história, Dhemerson explica que o Cerrado tem papel fundamental no abastecimento de água no país, já que o bioma é responsável pela nascente de oito bacias hidrográficas.
“Além de ser a moradia de povos tradicionais, é o maior produtor de água do país. Portanto, se não conciliarmos a conservação do Cerrado, todos os estados irão perder. São milhares de nascentes que alimentam os grandes rios e isso impacta demais nessa crise hídrica”, afirmou.
Desde o período pré-colonial, o Brasil já perdeu 46% da vegetação nativa e, com a aceleração do desmatamento no Cerrado, o especialista estima que a supressão passará dos 50% em até 30 anos.
A partir disso, o ecólogo defende uma nova formulação políticas públicas para buscar a preservação do meio-ambiente.
Uma das medidas consideradas fundamentais pelo especialista é o veto do Marco Temporal.
“Quando olhamos para o Cerrado e sua perda de vegetação, só 1,8% aconteceu em terras indígenas.
Isso demonstra a importância desses territórios, que funcionam como escudos contra a expansão dessa exploração”, acrescentou.
Publicado originalmente na Rede Brasil Atual