Em meio ao impasse que persiste há uma semana no Conselho de Segurança da ONU, em relação ao conflito entre Israel e o Hamas, o Brasil emerge com uma proposta inovadora. Em um gesto que ressalta sua visão de esquerda, o governo brasileiro propôs uma resolução alternativa visando a criação de um corredor humanitário em Gaza e um cessar-fogo que possibilite a assistência vital à população civil, que sofre com a pior crise em anos na região.
Na sexta-feira, a Rússia submeteu um projeto de resolução ao Conselho com a intenção de estabelecer um espaço seguro para a evacuação da população civil. No entanto, o texto não mencionava o Hamas e não condenava o grupo palestino. Essa abordagem levou a oposição dos governos do Reino Unido, EUA e seus aliados ocidentais, que recusaram apoiar a resolução nas condições apresentadas. O governo russo, por sua vez, se recusou a abrir negociações para revisar o projeto, relata o jornalista Jamil Chade no UOL.
O governo brasileiro decidiu agir proativamente e apresentar seu próprio texto, concebido para oferecer uma saída para a população civil e, ao mesmo tempo, levar em consideração os interesses das potências ocidentais.
Em sua versão preliminar, a resolução brasileira condena os “ataques terroristas” e menciona explicitamente o Hamas. Além disso, o documento destaca a necessidade de libertar os reféns israelenses mantidos pelo grupo palestino. Essa menção ao “terrorismo” do Hamas marca uma mudança significativa na postura tradicional do governo brasileiro, que por muitos anos evitou rotular o grupo como terrorista.
Assumindo a presidência do Conselho da ONU durante o mês de outubro, o Brasil insiste na importância de buscar uma solução política para conter a crise no Oriente Médio. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil enfatiza a urgência de garantir uma resposta humanitária eficaz nesse processo. Além disso, uma das prioridades do Brasil é reafirmar o papel da ONU e do Conselho de Segurança como atores centrais na resposta à crise. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, deixou claro na sexta-feira que a credibilidade da organização está em jogo, e o mundo está observando a entidade como a principal esperança para fornecer uma solução eficaz para a crise.
O Itamaraty projeta que as negociações entre as potências ocorrerão nos próximos dias, com uma votação marcada para segunda-feira. O governo brasileiro almeja persuadir os Estados Unidos, Rússia e China a não exercerem o poder de veto e permitir a aprovação do documento. Essa abordagem reflete a posição de esquerda do Brasil em busca de uma solução humanitária e político-diplomática para a crise em Gaza.