Por Mateus Coutinho
A Controladoria-Geral da União (CGU) concluiu, após investigação, que o certificado de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para covid-19 é falso. A informação foi divulgada na noite desta quinta-feira (18) pelo órgão (leia a íntegra do relatório da CGU)
A investigação da CGU ouviu diversas pessoas envolvidas com o caso, entre elas a enfermeira cujo nome consta no cartão de vacinação do ex-presidente e que negou ter aplicado o imunizante em Bolsonaro. Segundo o órgão, a enfermeira afirmou às autoridades que sequer trabalhava no posto de saúde na data em que foi registrada a suposta vacinação, o que a Controladoria diz ter confirmado por meio de documentos e outros depoimentos.
“Também foram feitas oitivas de funcionários em serviço na UBS no dia 19/07/2021, mas todos negaram ter visto o ex-Presidente da República no local. Da mesma forma, negaram conhecer qualquer pedido feito para registrar a imunização do então Chefe do Poder Executivo”, diz o texto divulgado pela CGU. “Os depoimentos foram corroborados pela análise dos livros físicos mantidos pela UBS para registro da vacinação da população. Não foi localizado, nos papéis relativos ao dia 19/07/2021, a presença do ex-Presidente no local para se imunizar”, segue o órgão.
De acordo com a pasta, a apuração começou após um pedido feito via Lei de Acesso à Informação para ter acesso ao cartão de vacinação do ex-presidente. A partir dai, foram constatadas inconsistências nos registros da vacinação, que levaram à instauração de um procedimento de investigação para apurar o envolvimento de servidores federais.
“De acordo com os dados constantes do sistema do Ministério da Saúde, no Cartão Nacional de Vacinação do ex-Presidente da República, há um registro contra a Covid-19 que teria ocorrido em 19/07/2021, na Unidade Básica de Saúde (UBS) Parque Peruche, em São Paulo (SP). No entanto, outros dois registros de imunização, que teriam se dado em Duque de Caxias (RJ), haviam sido efetuados por agentes municipais, mas cancelados antes mesmo do início das investigações pela CGU. Ocorre que, em relação a esses últimos no Rio de Janeiro, logo em diligências iniciais, os auditores verificaram a existência de um possível esquema de fraude a cartões de vacinação, envolvendo o Secretário Municipal de Governo do local”, segue a CGU.
Fraude levou à prisão de Mauro Cid
A apuração da pasta foi comunicada à Polícia Federal, que avançou nas investigações e deflagrou a Operação Venire com autorização do Supremo Tribunal Federal. Foi nesta operação, realizada em maio do ano passado, que os policiais prenderam o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid. Ele ficou preso até setembro do ano passado, quando deixou a prisão após fechar um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, cujo teor segue sob sigilo. Também foi detido na operação outro ex-ajudando de ordens de Bolsonaro, o ex-tenente do Bope Max Guilherme.
Na operação também foram realizadas buscas em endereços de Bolsonaro e a PF ainda apontou que também teriam sido adulterados os cartões de vacinação da filha do ex-presidente, Laura Bolsonaro, do próprio Mauro Cid, de sua filha e sua esposa. Segundo a PF, as adulterações aconteceram para que os envolvidos pudessem embarcar do Brasil para os Estados Unidos, burlando as normas sanitárias vigentes.
Ainda de acordo com a CGU, nas investigações conduzidas pela pasta foi constatado junto ao Ministério da Saúde que seria impossível o registro de vacinação ter sido feito pelo sistema mantido pelo governo federal, que recebe as informações sobre vacinações dos Estados e municípios. “Portanto, quanto à vacinação que teria ocorrido em São Paulo – único registro que ainda permanece no cartão de vacinação do ex-Chefe do Executivo – a CGU encerrou seus trabalhos no final de 2023. A conclusão foi que se trata de fraude ao sistema estadual de registro de vacinação contra a Covid-19”.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de Bolsonaro, mas ela não retornou até o fechamento deste texto. O texto será atualizado em caso de contato.
Publicado originalmente no “Brasil de Fato”