Chile caminha para a derrubada da última muralha do pinochetismo. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 17 de maio de 2021 às 22:36
Uma mulher chilena dá seu voto em uma seção eleitoral em Santiago, capital do Chile, neste domingo
AFP

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VIVA CHILE!

 

Cinquenta anos após a posse de Salvador Allende (novembro de 1970) e 32 anos depois do final da ditadura, neste histórico final de semana, o Chile finalmente abre caminho para a derrubada da última muralha do pinochetismo, a Constituição de 1980.

O governo Piñera – após as surpreendentes manifestações de massa de 2020 – aceitou a realização de uma eleição Constituinte, cheia de salvaguardas malandras. A maior delas era só admitir mudanças que contassem com 2/3 dos constituintes eleitos.

Estava certo de que, mesmo na pior das hipóteses para a direita, cláusulas pétreas da Carta anterior estariam garantidas. Essas seriam a tipificação de crime de terrorismo, restrições eleitorais, abertura para privatizações em todas as áreas, entre outras medidas arbitrárias.

O pior dos piores cenários para a direita se confirmou, apesar de um comparecimento menor do que o esperado nas urnas (41%). Um total de 117 de 155 dos eleitos são de esquerda, centroesquerda ou independentes, sendo vários sufragados por povos originários. Serão 83 mulheres e 72 homens (pense na Câmara dos Deputados do Brasil, na qual há 436 homens e 77 mulheres)!

Nas disputas regionais, a direita ganhou 2 governos e a centroesquerda em 15. Santiago terá uma prefeita comunista e a direita perde em outras cidades importantes, como Viña del Mar e Maipu.

É difícil afirmar que a América do Sul, em seu conjunto, vive uma nova onda rosa, como nos primeiros anos do século. O principal país, o Brasil, com 2/3 do PIB e 50% da população, é governado vocês sabem por quem. Há uma disputa em andamento no Peru. No Equador, uma divisão do progressismo abriu caminho para a continuidade do conservadorismo ultraliberal.

Mas é inegável o crescente rechaço ao regressismo na região.