Chopard, marca das joias de Bolsonaro, se envolveu em escândalo semelhante na Europa envolvendo “mulas”

Atualizado em 8 de março de 2023 às 19:53
Funcionários da Chopard são suspeitos de terem feito notas fiscais falsas de joias. Aqui a loja da Praça Vendôme, em Paris

A joalheria suíça Chopard, marca dos diamantes oferecidos pelo príncipe saudita a Michelle Bolsonaro, já se envolveu num escândalo semelhante na França. A considerar uma investigação da imprensa francesa, haveria um modus operandi em comum entre diamantes de Bolsonaro e o transporte de joias da empresa suíça para outros países da Europa.

Uma reportagem do jornal Le Parisien publicada em abril do ano passado aponta um esquema sistemático dentro da empresa de Genebra para burlar as aduanas francesas. De acordo com a investigação, a empresa se vale de “mulas” e diferentes métodos para fazer as joias atravessarem fronteiras sem pagar impostos.

Ainda que a sede da empresa se situe na Europa, a Suíça não faz parte do “espaço Schengen”, o que faz com que o transporte para qualquer país da União Europeia seja submetido a um controle aduaneiro. Segundo o Le Parisien, as autoridades francesas investigam a travessia ilegal das joias por parte de funcionários, ou dirigentes, da companhia.

“Segundo nossas fontes, as autoridades francesas estão de olho na prestigiada marca e essas joias ‘vindas no bolso’ transportadas pelos funcionários”, diz a reportagem do Le Parisien.

De modo não muito distante do do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, que levava as joias numa mochila quando foi interceptado em Guarulhos, Le Parisien identificou mais “sofisticação” na entrada ilegal das joias da empresa suíça na França.

“Em julho de 2018, Caroline Scheufele, co-presidente da Chopard, veio assistir à Fashion Week em Paris. Ela passou a fiscalização com um colar de grande valor, descrito num site especializado como ‘um conjunto de 17 esmeraldas, de uma raridade absoluta. Cravejadas num colar de caráter atemporal, essas pedras foram associadas a dois diamantes D-Flawless, cujo maior pesa pelo menos 20 quilates’. Uma vez os desfiles terminados, a dirigente da Chopard deixou a joia, que oficialmente não existe, nas dependências de sua empresa”. A publicação sugere que o material entrou, portanto, na França sem declaração.

De acordo com o Le Parisien, que aponta ter obtido acesso a trocas de e-mails internos da Chopard, o diretor da filial da empresa suíça em Paris pediu naquele momento a regularização da joia deixada pela presidente.

Segundo o jornal, o dirigente sugere que o colar seja enviado à Chopard de Hong Kong. Mas um funcionário reage afirmando que a operação é impossível: “Se ela (a peça) não está registrada em lugar nenhum aqui, não se pode infelizmente fazê-la sair do território, ainda menos para Hong Kong”, cita o Le Parisien.

“Se houver um roubo como o de 2015 (em dezembro daquele ano, a loja da praça Vendôme tinha sido roubada, com um prejuízo de aproximadamente 1 milhão de euros) e essa joia for roubada, oficialmente ela não existe”, alerta outro funcionário, citado pelo jornal francês.

A reportagem do Le Parisien aponta que a solução encontrada nesse caso e em diversos outros nos anos seguintes foi de emitir faturas falsas. “Espero que não haja outras peças debaixo dos panos em Vendôme”, diz um funcionário, no que Le Parisien interpreta como um cansaço do esquema. “As correspondências levam a crer num modus operandi conhecido e bem estabelecido”.

Bolsonaro e as joias dos sauditas para Michelle


O diário parisiense aponta que o transporte clandestino das joias ocorre também no sentido oposto e que a diretora da Chopard seria uma espécie de “mula de luxo”.

“Caroline tinha um voo sexta no fim da tarde e pegou as joias antes de partir em Vendôme (local onde fica a filial em Paris)”, menciona num e-mail o diretor da loja, de acordo com Le Parisien.

Diferentes veículos de imprensa da França relatam tentativas de contato com a empresa, sem resposta.

A considerar o esquema internacional de transporte clandestino das joias da Chopard, chama a atenção a semelhança com o caso dos Bolsonaros, uma vez que se trata da mesma marca e de seu potencial modo de transporte por meio de uma “mula de luxo”.

O caso de Jair e Michelle ganha, no entanto, proporções maiores pois envolve pelo menos a atuação de dois Estados, o brasileiro e o saudita, por intermédio de um ministro estatal.

Uma troca de informações sobre as investigações em curso entre as polícias brasileira e francesa pode contribuir para esclarecer se os Bolsonaros foram alvo apenas de uma gentileza interestatal ou se o transporte das joias fazia parte de um esquema clandestino internacional.