Na praça central de Eldorado Paulista, cidade onde Bolsonaro foi criado, um mistério ronda o imaginário popular: um monumento dedicado ao Integralismo, movimento de extrema-direita bastante popular nos anos 1930 e que voltou à tona com o ataque ao Porta dos Fundos, chama a atenção bem em frente ao prédio da prefeitura.
Ninguém sabe dizer quem ergueu nem quando.
A última grande reforma da praça, conhecida como Nossa Senhora da Guia, foi realizada no início dos anos 90 na administração do prefeito Antônio Donizete de Oliveira, o Zetinho.
Ele nega que tenha sido o responsável pela instalação.
“Já estava lá. Nós apenas mantivemos no lugar”, diz, contrariando diversas fontes locais que juram ter sido ele o responsável pela honraria.
Na prefeitura e na câmara de vereadores ninguém quer dizer sobre a obra.
Foi na Praça Nossa Senhora da Guia que Carlos Lamarca e mais oito de seus homens trocaram tiros com a polícia local em 1970, quando Lamarca passou pela cidade.
Em seguida, o grupo atravessou a ponte sobre o rio Ribeira, rendeu um caminhão do Exército e seguiu São Paulo.
Bolsonaro já disse que sua fixação pelo verde-oliva vem dos tempos em que o Exército se instalou na praça central de Eldorado e, exagerando como sempre, ajudou a tropa a se embrenhar na mata na caçada ao grupo guerrilheiro.
Um ano depois Lamarca acabaria morto no sertão da Bahia após ser traído por um de seus companheiros.
O monumento integralista segue altivo e presente, sem que a população se dê conta da sua real representação.
No início do ano, foi ali que Bolsonaro discursou, com a faixa de presidente, na visita que fez à cidade.
Sequer foi recebido pelo prefeito: Durval Adélio de Morais, o Vadico, do Partido da República (PR), inventou uma agenda qualquer e deixou o capitão plantado, perdido no tempo e no espaço, provavelmente também sem ter conhecimento de que estava ao lado do monumento que representa a sua crença ideológica e cujo lema serviria de inspiração para as três palavras que compõem o enunciado do Aliança Brasil, partido que tenta criar com os filhos: “Deus”, “pátria” e “família”.