Cientista denuncia negacionismo e ataques que sofreu de Bolsonaro e asseclas na revista The Lancet

Atualizado em 23 de janeiro de 2021 às 12:20
Pedro Hallal

Uma carta demolidora foi publicada na sexta-feira (22) na revista The Lancet, uma dos mais prestigiosas publicações do mundo na área da saúde.

Ela é assinada pelo epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal.

Intitulada “SOS Brasil: ataques à ciência”, a peça foi escrita após ataques covardes de Bolsonaro e seus apoiadores a Hallal, líder do maior estudo epidemiológico sobre a covid-19 no país.

“Como cientista, tendo a não acreditar em coincidências”, escreve ele, que testou positivo em dezembro.

Os números brasileiros do coronavírus evoluíram simultaneamente a uma sequência de manifestações públicas de Jair Bolsonaro.

“É só uma gripezinha”, declarou em março; “Há sinais de que a pandemia está chegando ao fim”, disse em abril; “E daí? O que querem que eu faça”, respondeu a jornalistas.

Hallal lembra que não há qualquer outro chefe de estado que tenha declarado que não se vacinará porque viraria jacaré.

O histórico de ataques à ciência remonta ao início do mandato de Bolsonaro, com cortes de recursos e posturas de negacionismo.

“Nunca imaginei que eu seria o próximo”, diz Hallal, em relação aos ataques.

O epidemiologista foi convocado em três ocasiões para reuniões presenciais no Ministério da Saúde em Brasília.

Quatro dias após sua última visita, começou a apresentar sintomas de Covid-19.

Ele conta que, assim que sua infecção foi noticiada, passou a ser acusado de hipocrisia e de “pregar moral de cueca”.

Em 11 de janeiro, Hallal foi vítima de um “ataque orquestrado” por um deputado e um jornalista durante entrevista a uma rádio.

O deputado era Bibo Nunes, em entrevista ao programa de um tal Júlio Ribeiro na rádio Guaíba.

Três dias depois, o próprio presidente publicou em seu perfil no Twitter o trecho.

“Se o Brasil tivesse um resultado igual à média mundial, 156 582 mortes teriam sido evitadas até o dia 21 de janeiro de 2021”, afirma.

“Atacar cientistas definitivamente não vai ajudar a resolver o problema”.