Uma carta demolidora foi publicada na sexta-feira (22) na revista The Lancet, uma dos mais prestigiosas publicações do mundo na área da saúde.
Ela é assinada pelo epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal.
Intitulada “SOS Brasil: ataques à ciência”, a peça foi escrita após ataques covardes de Bolsonaro e seus apoiadores a Hallal, líder do maior estudo epidemiológico sobre a covid-19 no país.
“Como cientista, tendo a não acreditar em coincidências”, escreve ele, que testou positivo em dezembro.
Os números brasileiros do coronavírus evoluíram simultaneamente a uma sequência de manifestações públicas de Jair Bolsonaro.
“É só uma gripezinha”, declarou em março; “Há sinais de que a pandemia está chegando ao fim”, disse em abril; “E daí? O que querem que eu faça”, respondeu a jornalistas.
Hallal lembra que não há qualquer outro chefe de estado que tenha declarado que não se vacinará porque viraria jacaré.
O histórico de ataques à ciência remonta ao início do mandato de Bolsonaro, com cortes de recursos e posturas de negacionismo.
“Nunca imaginei que eu seria o próximo”, diz Hallal, em relação aos ataques.
O epidemiologista foi convocado em três ocasiões para reuniões presenciais no Ministério da Saúde em Brasília.
Quatro dias após sua última visita, começou a apresentar sintomas de Covid-19.
Ele conta que, assim que sua infecção foi noticiada, passou a ser acusado de hipocrisia e de “pregar moral de cueca”.
Em 11 de janeiro, Hallal foi vítima de um “ataque orquestrado” por um deputado e um jornalista durante entrevista a uma rádio.
O deputado era Bibo Nunes, em entrevista ao programa de um tal Júlio Ribeiro na rádio Guaíba.
Três dias depois, o próprio presidente publicou em seu perfil no Twitter o trecho.
“Se o Brasil tivesse um resultado igual à média mundial, 156 582 mortes teriam sido evitadas até o dia 21 de janeiro de 2021”, afirma.
“Atacar cientistas definitivamente não vai ajudar a resolver o problema”.