Cientistas desmentem Bolsonaro: Desmatamento recorde aumentou queimadas. Por Cida de Oliveira

Atualizado em 16 de novembro de 2019 às 15:02
A área desmatada na Amazônia em julho de 2019 foi quase quatro vezes maior que a média do mesmo período entre 2016 e 2018. Foto: REPRODUÇÃO/ABR

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual (RBA)

POR CIDA DE OLIVEIRA

Uma dos argumentos mais usados por Jair Bolsonaro para tentar justificar o aumento das queimadas na Amazônia – de que o fogo tinha origem nas roças de pequenos agricultores – foi desconstruído por pesquisadores de universidades do Brasil e do Reino Unido.

Em carta ao editor da revista científica Global Change Biology, publicado nesta sexta-feira (15), em forma de artigo, os cientistas analisaram essas alegações do governo brasileiro, que considera as queimadas e o desmatamento “dentro de uma situação normal” e “abaixo da média dos últimos anos.” Clique aqui para ler em português.

Para os autores – muitos dos quais preferiram não assinar o artigo científico, num claro sinal de que os tempos são sombrios para a ciência e o conhecimento no Brasil – há fortes evidências de que o aumento no número de queimadas está relacionado à alta nas taxas de desmatamento.

Para investigar tais evidências, eles estimaram a área desmatada em 2019, necessária porque o sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mede o desmatamento anual entre agosto de um ano a julho do ano seguinte. Assim, os dados referentes a 2019 ainda não foram publicados.

“Nós observamos que a detecção anual do desmatamento pelo Prodes é, em média, 1,54 maior que as taxas de desmatamento medidas em tempo quase-real a partir do sistema DETER-b (um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo Inpe). O uso desse fator de conversão (1,54) sugere que mais de 10.000 quilômetros quadrados de florestas tenham sido desmatadas entre agosto de 2018 e julho de 2019, o que poderia representar o maior desmatamento anual desde 2008. Essa alta taxa anual reflete o aumento acentuado no desmatamento mensal detectado pelo DETER-b”. “Por exemplo, a área desmatada na Amazônia em julho de 2019 foi quase quatro vezes maior que a média do mesmo período entre 2016 e 2018”, relatam os cientistas.

Segundo eles, o aumento acentuado de incêndios e de desmatamentos em 2019 “refuta, portanto, a consideração de que agosto de 2019 foi um mês ‘normal’ na Amazônia brasileira. Além disso, o aumento de incêndios ocorreu apesar da ausência de uma seca extrema, um fator que geralmente é um forte determinante da ocorrência de incêndios. A alta incidência dos incêndios decorrentes do processo de desmatamento foi consistente com as imagens de queimadas em larga-escala ocorrendo em áreas desmatadas e que foram mostradas na mídia, enquanto que as enormes plumas de fumaça atingindo altos níveis atmosféricos só poderiam ser explicadas pela combustão de grandes quantidades de biomassa vegetal. A não-normalidade de 2019 também foi enfatizada pela contagem excepcionalmente alta de incêndios em algumas áreas protegidas, como a Floresta Nacional de Jamanxim, onde as queimadas aumentaram em 355% entre
2018 e 2019 — 44% acima da média de longo prazo.”