O renomado cineasta e diretor brasileiro Henrique Goldman concedeu uma entrevista à Folha de S. Paulo em que detalhou a reação da comunidade judaica brasileira à visita de David Ben-Gurion ao Brasil. Gurion foi o líder do movimento sionista que lutou pelo reconhecimento do Estado de Israel pela ONU em 1948. Ele também foi a primeira pessoa a ocupar o cargo de primeiro-ministro israelense.
Em seu relato, Goldman relembra a atmosfera de otimismo na comunidade judaica de São Paulo após a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias em 1967. Esse conflito foi travado por israelenses contra o Egito, a Síria e a Jordânia e foi responsável pela anexação do território palestino à Israel e a diáspora do povo islâmico da região para Gaza e Cisjordânia.
Dois anos após a guerra, Ben-Gurion visitou a cidade de São Paulo. Goldman conta que o primeiro-ministro defendeu a devolução dos territórios ocupados aos palestinos e enfatizou a importância da paz com os vizinhos árabes no momento de expansão do país.
A narrativa do cineasta começa com a antecipação de uma festa de aniversário do autor quando era criança, que foi cancelada devido ao início da Guerra dos Seis Dias em junho de 1967. O autor lembra como, naquele momento, os judeus da diáspora viam os palestinos como árabes genéricos, sem considerar a existência do povo palestino.
O cineasta descreve a vitória de Israel na guerra como uma conquista monumental, na qual Israel derrotou três países árabes em menos de uma semana. Para o autor, isso transformou os judeus no exterior, como ele, em heróis.
O texto também destaca como o otimismo judaico da época se assemelhava ao nacionalismo que predominava no Brasil durante o mesmo período. O autor faz uma reflexão sobre como figuras políticas no Oriente Médio, incluindo Ben-Gurion, eram, em última análise, envolvidas em crimes de guerra, independentemente de sua imagem pública.
O autor narra um episódio no qual Ben-Gurion se reuniu com líderes da comunidade judaica em São Paulo e defendeu a devolução dos territórios ocupados por Israel, exceto Jerusalém Oriental e as colinas do Golã. Goldman destaca a importância da paz com os vizinhos árabes, a qual Ben-Gurion também compreendeu na época.
A narrativa termina com uma conversa entre o autor e sua sogra, que é judia e nasceu no Iraque. Ela expressa desconfiança em relação às notícias sobre a situação em Gaza, argumentando que os palestinos estariam encenando a tragédia. O autor tenta explicar a complexidade do conflito, mas ela relembra como sua própria família foi expulsa do Iraque e diz que não sentirá pena dos palestinos. O texto termina com um sentimento de tristeza e impotência do autor diante da difícil situação no Oriente Médio.