Folha e Estadão, que vacilaram nas edições online ao longo do dia de ontem, namorando o discurso da “polarização”, deram manchetes para o homicídio político no Paraná.
A manchete da Folha, direta e descritiva, contempla todos os elementos centrais: “Bolsonarista invade festa e mata petista a tiros no PR”.
Já o Estadão diluiu o atentado num sentimento vago (“Assassinato de petista eleva medo de violência na campanha”) e deixou a filiação política do assassino para a linha fina.
A Folha foi menos bem na reportagem dentro. Listando episódios de violência política no Brasil dos últimos tempos, quis “equilibrar” uma contagem que na verdade é unilateral e incluiu o impedimento à fala de Fernando Holliday na Unicamp – exemplo de que a esquerda também seria violenta.
Não apenas o caso não chega perto da dimensão dos outros (assassinato, bomba em manifestação, ataque com drone, perseguição de automóvel) como o responsável era um pequeno grupo sectário que nem sequer apoia Lula.
O Globo, que errou menos no online, preferiu não dar o crime como manchete principal. Ficou com a “escassez de remédios”, uma escolha pouco justificável em termos de interesse jornalístico.
Quem desceu baixo foi Ciro Gomes, cada vez mais operando como linha auxiliar do bolsonarismo. Lamentou “a tragédia humana e política que tirou a vida de dois pais de família em Foz do Iguaçu”. E continuou: “O ódio político precisa ser contido para evitar que tenhamos uma tragédia de proporções gigantescas.”
Ele equiparou agressor e agredido. E, sem mencionar nomes, voltou à sua velha ladainha de que Lula e Bolsonaro são expoentes equivalentes do “ódio político”.
No tuíte seguinte, o candidato nanico pediu que “Deus, na sua misericórdia, interceda em favor de nós brasileiros, pacificando nossas almas”. Como se a questão fosse o pecado original, não uma extrema-direita violenta que precisamos neutralizar com urgência.
Parece que Ciro não está mais “costeando o alambrado”, como dizia o velho Brizola. Já passou pro outro lado.
Bolsonaro, por sua vez, reagiu com cinismo. Não condenou o assassinato, insinuou que o que todos vimos não é a verdade (ainda depende das “apurações”) e acusou a esquerda de ser a agressiva.
Seus seguidores, Carla Zambelli à frente, estão com um carnaval de falsificações nas redes para “provar” que é Lula quem incita a violência.
O ovo da serpente já eclodiu. Se o Poder Judiciário não tomar medidas imediatas e efetivas para interromper a incitação à violência contra os adversários, que é a pregação diária do bolsonarismo, podemos ter um banho de sangue à nossa frente.