Dizem que o tempo cura o rancor. Para alguns, porém, esse triste sentimento parece ser indestrutível.
Ciro Gomes voltou a aparecer. Após um atraso secular a respeito do caso Queiroz, agora concede entrevista ao jornal El País.
Mais do mesmo, a única novidade é que se porta como um político ainda menor do que se imaginava.
Transbordando ódio contra o PT e condescendência ao governo Bolsonaro, dá sinais de que perde o foco da realidade ao querer tornar crível a esparrela da direita brasileira de que todo o mal no Brasil passa pelo Partido dos Trabalhadores e, sobretudo, puxar para si uma responsabilidade da qual o povo brasileiro jamais lhe outorgou.
De um lado, considera que o Messias tem força para construir um pacto de governabilidade e que todos nós precisamos ter a “sensibilidade” para ajudá-lo.
Quase servil, se abstém de fazer qualquer crítica ao governo dando pelo menos 100 dias para deixar “Bolsonaro tomar pé das coisas”. A partir daí, diz, começará a cobrar. De que forma e sobre quais pautas, prefere manter segredo.
É a partir dessa centena de dias que invocará “o papel que a nação deu a mim”. O papel da oposição, explica ele.
Quando a nação resolveu dar o papel de principal articulador da oposição ao governo Bolsonaro ao cidadão que passou longe de chegar sequer ao segundo turno das eleições é uma questão insondável para o nobre cavaleiro.
De qualquer forma, é assim que Ciro enxerga a sua atual posição na política brasileira.
Do outro lado, põe lenha na fogueira que aquece as suas frustrações.
Volta a criticar a “burocracia do PT”, Lula (a quem considera um preso comum e não um preso político) e a sua oferta para que fizesse parte da chapa. Um insulto, segundo ele.
Milimetricamente alinhado com os comentaristas da grande mídia antipetista, chamou de “atitude infantil, antidemocrática e burra” o fato do PT não ter participado da cerimônia de posse do presidente eleito.
Atitude infantil, antidemocrática e burra somente do PT, pelo visto, já que não mencionou absolutamente nada sobre o PSOL e o PCdoB que tiveram o mesmo posicionamento.
Ainda se autodeterminou como “a via” e como o “pós PT”, alguém, na sua definição, que “tem coragem de encará-los”. Um devaneio bravateiro de proporções faraônicas.
Tudo já seria um grande absurdo se no auge de sua retórica controversa não chegasse à “brilhante” conclusão que PT e Bolsonaro, na prática, se amam.
O homem é um fenômeno, realmente.
Ciro Gomes, devo reconhecer, possui a inacreditável capacidade de surpreender negativamente até àqueles que nada esperam dele. Quando imaginei que chamar um intelectual da envergadura e importância para o Brasil como Leonardo Boff de “bosta” fosse o seu fundo do poço, eis que o alçapão sempre surge.
Seu dom de se diminuir a cada entrevista que concede ainda vai alcançar patamares subatômicos, ou, em outras palavras, bolsonarianos.