Fujam para os montes! Abriram a Caixa de Pandora! A última operação da PF não poderia ter recebido um nome mais sugestivo do que “Patmos”, numa referência à ilha mediterrânea onde o apóstolo João recebeu as revelações narradas no livro de Apocalipse.
A operação foi deflagrada a partir da delação dos donos do JBS, maior grupo de produção de proteína animal do mundo. Além de expor um pedido de propina de Aécio Neves no valor de R$ 2 milhões para pagar sua defesa na Lava Jato, também revelou o presidente Michel Temer dando aval para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
“Nada há oculto que não seja revelado”, teria dito Jesus certa feita. E de fato, “Apocalipse” é um termo grego traduzido por “revelação”.
O livro mais temido da Bíblia recorre a imagens grotescas como a de bestas que emergem do abismo para assolar os homens, numa referência cifrada ao império romano.
A operação Patmos expôs mais uma vez as entranhas da besta da corrupção, prenunciando o que pode vir a ser o “fim dos tempos” da era Temer e companhia.
Dentre os fatos estarrecedores, tomamos ciência de que Eduardo Cunha, deputado federal pelo RJ, estaria recebendo uma mesada de 500 mil reais semanais que deveria se estender por vinte anos para manter o silêncio.
Isso totalizaria 480 milhões (quase meio bilhão de reais!). Mesmo atrás das grades, o parlamentar que se notabilizou entre os evangélicos com o bordão “porque o nosso povo merece respeito!”, segue sua vexatória trajetória de corrupção.
E pensar que houve tempo em que a cabeça de um profeta valia mais do que a metade de um reino.[1] Hoje, o silêncio de um pateta vale mais que uma república inteira.
Se a operação Patmos revelou as bestas do nosso próprio Apocalipse tupiniquim, resta revelar os “profetas” que a apoiaram. Como toda besta que se preze, as nossas também buscam se respaldar em seus profetas de estimação, capazes de atribuir-lhes a alcunha de “Ungidos do Senhor”.
Trata-se de homens vendidos que há muito perderam seu temor a Deus, cortejando despudoradamente quem quer que esteja no poder.
De acordo com a reportagem da Folha, o pastor Silas Malafaia teve seu nome citado na delação premiada de Francisco de Assis e Sila, que defende o grupo dos irmãos Joesley, donos da JBS, e de Wesley Batista.
Silva afirmou que Malafaia teria recorrido a Willer Tomaz, outro advogado da JBS, solicitando um encontro com um juiz, com a intenção de estreitar relações com o magistrado após ter sido alvo de condução coercitiva em dezembro.
Dois meses depois, Malafaia foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de haver ajudado suposta organização criminosa a lavar dinheiro.
Ele teria recebido a quantia de R$ 100 mil depositados em sua conta pessoal. Mesmo alegando tratar-se de uma oferta, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo procurou travar aproximação do poder judiciário, precavendo-se de futuros problemas com a justiça dos homens.
Ainda que seja comprovada sua inocência, não pega nada bem para quem se apresenta como paladino da moral e da ética cristãs.
Seria como se Jesus recorresse a Pilatos na calada da noite para garantir que não seria crucificado. O mestre galileu jamais foi afeito a este tipo de postura antiética. Ele preferia tudo às claras, sem rabo preso com quem quer fosse.
É melhor a turma colocar mesmo as barbas de molho… A história se repete: não vai ficar pedra sobre pedra.
Faço votos que um novo Brasil emerja das cinzas deste “apocalipse”, e que se levantem líderes idôneos, profetas sem papas na língua, comprometidos com a justiça e o bem comum e não com agendas megalomaníacas e projetos faraônicos de poder.
[1] João Batista, conhecido por não ter papas na língua, foi decapitado a pedido da enteada do rei Herodes, que preferiu sua morte à metade do seu reino, como lhe foi oferecido por seu padrasto.