“Coaches de pegação” viram réus por vender “curso de conquista” de mulheres em SP

Atualizado em 28 de setembro de 2024 às 13:05
“Junte-se a um círculo social milionário”, diz o anúncio do curso de pegação. Foto: reprodução

A Justiça Federal de São Paulo tornou réus três coaches, dois estrangeiros e um brasileiro, acusados de organizar cursos de “conquista” de mulheres, que envolviam menores de 18 anos e indução à exploração sexual mediante fraude com lucro. O brasileiro Fabrício Marcelo Silva de Castro Junior, o chinês Ziqiang Ke, conhecido como Mike Pickupalpha, e o estadunidense Mark Thomas Firestone, que utilizava os nomes David Bond e Steven Mapel, serão processados pela 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

A investigação contra o trio começou após uma festa realizada em uma mansão no bairro do Morumbi, Zona Sul de São Paulo, em fevereiro de 2022, que fazia parte de um curso oferecido por eles. Na ocasião, adolescentes foram identificadas entre as participantes. O evento foi promovido por Mike Pickupalpha e David Bond, fundadores do site Millionaire Social Circle (“Círculo Social de Milionários”).

O brasileiro Fabrício Castro, autointitulado “mentor de homens”, chegou a receber auxílio emergencial de R$ 5.950 durante a pandemia de Covid-19, enquanto vendia seus cursos. Ele também foi indiciado pela Polícia Civil de São Paulo, suspeito de colaborar com os estrangeiros.

Em resposta, sua defesa considerou desproporcional a apreensão de seu passaporte e afirmou que recorrerá judicialmente da decisão. Até o momento, a defesa dos outros dois réus não foi localizada.

O procurador da República Michel François Drizul Havrenne afirmou no processo que os réus “obtiveram significativos ganhos financeiros a partir da exploração sexual de mulheres brasileiras, em uma prática conhecida como ‘turismo sexual'”. O esquema atraía estrangeiros para países em desenvolvimento, como Brasil, Costa Rica, Colômbia e Filipinas, com a promessa de facilidades econômicas e encontros com mulheres locais.

Os “coaches de conquista” Ziqiang Ke, da China, e Mark Thomas Firestone, dos EUA. Foto: reprodução

De acordo com a investigação, o curso oferecido pelo trio cobrava a partir de US$ 12 mil (aproximadamente R$ 63 mil) por uma consultoria de duas semanas, com pacotes que chegavam a US$ 50 mil (cerca de R$ 262,7 mil) para uma “World Tour” em seis países. Durante as viagens, os alunos recebiam “mentoria” sobre como conquistar mulheres, com encontros organizados em mansões luxuosas e jantares sofisticados.

Em um dos eventos realizados em São Paulo, uma jovem de 17 anos foi identificada em imagens feitas na festa e reconhecida por seu pai. A adolescente relatou que conheceu Mike Pickupalpha pela internet e, após sair com ele, foi convidada para a festa no Morumbi.

Outra menor de idade também esteve presente no evento, a convite de uma amiga maior de idade. Ela consumiu bebidas alcoólicas e se envolveu com um dos participantes do curso, mas desconhecia que o grupo fazia parte de uma mentoria de sedução.

O site Millionaire Social Circle, que havia sido tirado do ar após o início das investigações, voltou a funcionar, removendo apenas o conteúdo relacionado ao Brasil. Já as contas do grupo no TikTok, YouTube e Instagram retornaram à atividade, apesar das denúncias.

Mike e David Bond foram vistos em diversos vídeos filmando mulheres em diferentes países, muitas vezes sem que elas percebessem. Nos materiais promocionais do curso, eles exibiam um kit de viagem que incluía pílulas do dia seguinte, preservativos e perfumes com feromônios, utilizados para atrair as mulheres.

Uma das vítimas denunciou à polícia após ver vídeos publicitários em que ela aparecia ao lado de “alunos” do curso. Segundo seu relato, ela conheceu um dos participantes através do Tinder e foi convidada para um jantar. Ao perceber que estava sendo filmada constantemente, tentou se esquivar. Posteriormente, foi convidada para a festa no Morumbi, onde relatou a presença de diversas mulheres, muitas delas sem fluência em inglês, e situações que a deixaram desconfortável.

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