O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou 42 movimentações financeiras consideradas suspeitas nas contas de Pablo Marçal. O coach se candidatou a deputado federal nas eleições de 2022, mas a Justiça Eleitoral indeferiu sua candidatura.
Na manhã desta quarta-feira (5), ele foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal, no âmbito de um inquérito que apura a ocorrência de crimes eleitorais e lavagem de dinheiro.
De acordo com o jornal O Globo, o inquérito tramita em sigilo na 1ª Vara Eleitoral de São Paulo e Marçal passou a ser investigado pela PF após o Coaf receber um relatório de inteligência financeira que fez a verificação das movimentações financeiras suspeitas.
Quando instaurou o inquérito, a Polícia Federal viu que o coach é sócio de mais de 20 empresas, sendo a maioria delas criada em 2021 e três supostamente “utilizadas para trânsito de valores com a finalidade de ocultar a sua real destinação”. Ou seja, se identificou um repasse de dinheiro entre as campanhas presidencial e para deputado às empresas dele. O Ministério Público Eleitoral está de acordo com a abertura da investigação.
No pleito do ano passado, inicialmente, Marçal era candidato à presidência da República pelo PROS, mas o partido decidiu apoiar Lula (PT) e o coach decidiu disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele chegou a se eleger, mas teve sua candidatura indeferida.
A busca e apreensão foi autorizada pelo juiz Antônio Maria Patiño Zorz com a finalidade de apreender aparelhos celulares, documentos e mídias eletrônicas que possivelmente contenham informações sobre as movimentações financeiras.
A operação aconteceu na casa de Marçal e mais três pessoas e na sede de suas três empresas, todas localizadas em Barueri e Santana de Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo.
De acordo com as receitas e despesas que foram declaradas à Justiça Eleitoral, a campanha do coach para presidente recebeu ao todo R$ 1,4 milhões em doações, sendo que R$ 968 mil foram doados por ele mesmo. Na sequência, ele transferiu valores da campanha presidencial para a campanha de deputado.
Porém, a Polícia Federal apontou que existem suspeitas em relação a como este dinheiro foi gasto, já que na declaração de despesas da campanha presidencial constam pagamentos feitos para empresas das quais ele era sócio.
O inquérito ressalta que, por sete vezes, a Marçal Participações LTDA, empresa da qual ele é dono junto com a esposa, Ana Carolina Carvalho, foi contratada por R$ 288 mil. A contratação se deu para a prestação de serviços de locação de veículos, auditórios, aeronaves e helicópteros.
Em outras duas situações, o coach colocou a locação de aviões da empresa Aviation Participações LTDA como gasto de campanha, no total de R$ 112 mil. Ele é sócio dessa empresa junto com Marcos Paulo, maior doador de sua campanha para deputado federal.
A PF também apontou que, na Campanha para o Congresso, R$ 407 mil declarados como receita seriam doação da campanha presidencial de Pablo Marçal à sua campanha de deputado federal. Porém, o mesmo valor está no campo de despesas como repasse da campanha de deputado à campanha presidencial
Ainda existem divergências sobre os valores doados de uma campanha para a outra, quando a candidatura presidencial declarou doação de R$ 387 mil para a candidatura a deputado, valor que não está na parte de receitas na segunda campanha.
A Polícia Federal destaca, em trecho do inquérito, que o relatório do Coaf verificou uma “movimentação milionária entre as empresas administradas por Pablo, sua pessoa física e sua campanha presidencial”.
Entre 1º de agosto e 9 de outubro do ano passado, dentro do período eleitoral, a empresa Marçal Holding LTDA enviou à conta física de Pablo Marçal, em uma transferência Pix, um total de R$ 3,6 milhões. No mesmo período, o coach enviou à Marçal Participações LTDA R$ 1,6 milhões. A Aviation Participações LTDA, que recebeu R$ 112 mil da campanha presidencial, enviou a Pablo R$ 154 mil entre agosto e outubro de 2022.
As suspeitas da PF ainda chegaram a pessoas ligadas a Pablo. O administrador financeiro da campanha, Silas Carvalho, por exemplo, recebeu R$ 78 mil de Pablo via Pix, segundo o relatório do Coaf. Porém, na prestação de conta eleitoral de Marçal, diz que ele recebeu R$ 8.450 pelos “serviços de administração financeira” das campanhas presidencial e de deputado federal.
“Observa-se que o montante efetivamente declarado é bem menor ao valor detectado no Relatório de Inteligência Financeira do Coaf. Essa divergência entre os valores recebidos em conta e o valor constante nas prestações de contas são indícios de que pode ter havido o pagamento de despesas de campanha não contabilizadas nas prestações de contas eleitorais”, pontuou o juiz Antônio Maria Patiño Zorz, que autorizou as buscas contra Pablo Marçal.