Além de dar a Michel Temer um apelido preciso, incômodo e, portanto, eterno — “mordomo de filme de terror” —, Antônio Carlos Magalhães foi o primeiro a denunciar publicamente, e com o barulho que o caracterizava, o esquema do então deputado e presidente da Câmara no Porto de Santos.
Uma matéria da Istoé de junho de 1999 falou sobre a tentativa de ACM de “dar as cartas na reforma ministerial de FHC”.
No PFL, ACM, à época presidente do Senado, se esforçava para tirar o PMDB do governo. Fernando Henrique considerava isso um risco para a chamada “governabilidade” (ah, esses eufemismos idiotas).
Segundo a matéria, assinada por Andrei Meireles e Guilherme Evelin, ele almoçou com Covas, que governava São Paulo, e voltou com informações. Covas, é bom lembrar, era santista.
Transcrevo (os grifos são meus):
Entre uma garfada e outra, Covas contou a Antônio Carlos que alguns pesos pesados do empresariado estavam revoltados com a ação dos peemedebistas na área portuária, um feudo do partido no loteamento de cargos do governo FHC.
O coordenador-geral da Ação Empresarial, Jorge Gerdau Johannpeter, chegou a enviar uma carta ao ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, em protesto contra a decisão do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (PMDB-RS), de substituir oficiais da Marinha no comando dos conselhos de autoridade portuária de Santos, Rio Grande e Paranaguá.
No porto de Santos, por determinação do Planalto, o ministro teve de voltar atrás e manter no cargo o capitão-de-mar-e-guerra Francisco Luiz Gallo. “As críticas não são procedentes. As mudanças são decorrentes da privatização dos portos”, justificou Padilha em conversas com assessores.
Na avaliação de Covas e ACM, Padilha promoveu as mexidas nos portos com o propósito de ampliar o raio de atuação do PMDB no setor portuário. Denúncias de irregularidades na Companhia Docas Porto de Santos, dirigida por apadrinhados de Michel Temer, estão sob investigação do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União (TCU).
Em maio, a construção do terminal II do porto de Santos foi suspensa pelo TCU por causa de aditivos contratuais com a empreiteira Andrade Gutierrez que encareceram em 141,21% o preço original da obra. “As coisas morais nunca foram o forte do senhor Temer. Se abrir um inquérito no porto de Santos, ele ficará péssimo”, disparou ACM.
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