Colunista da Folha acha ridícula manifestação pró-Lula e fãs dela comemoram com chicotadas. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 13 de abril de 2018 às 8:55

 

Foto de Francisco Proner
A coluna da jornalista e roteirista: armada de preconceito

Uma colunista da Folha, Mariliz Pereira Jorge, que se apresenta como jornalista e roteirista, gasta 750 palavras para tentar nos convencer de que a foto de Francisco Proner Ramos com Lula carregado nos braços do povo tem mais jornalistas, fotógrafos e seguranças do que manifestantes.

“Um colega da imprensa teve o trabalho de aproximar a foto tão celebrada em que Lula é ‘carregado nos braços do povo’ e circulou todos os que eram fotojornalistas e seguranças. É quase triste contar isso, mas sobrou pouco povo para tanta gente que estava ali apenas a trabalho”, escreve ela.

Triste nada, ela se divertiria se fosse verdade.

Mas não é.

Se fosse verdade, em vez de abusar da boa-fé do leitor — de resto, tratado como otário –, mostraria a foto com os círculos, porque quem se dá o trabalho de ver a foto com atenção chega a uma conclusão bem diferente da dela.

Eu estive lá, a trabalho, e vi muita gente, dentro e fora do sindicato. Gente que pegou os últimos 100 reais na carteira e foi acampar e, depois, se dispôs  a correr riscos para impedir que Lula se apresentasse à Polícia Federal.

A foto de Francisco mostra uma pequena parte desses militantes. Mas, pela concisão e simbolismo, teve impacto e, por isso, corre o mundo, ocupou quase meia página do The New York Times e serve de capa da página do Le Monde no Facebook.

Mas a jornalista e roteirista acha que não é para tudo isso. Ali quase não tinha povo, a maioria era profissional pago, acredita ela.

Seus leitores menos avisados ou reacionários devem adorar, porque expressões desse tipo servem de consolo: não participei do evento, minha turma é outra, mas também não foi aquela coisa, só tinha gente paga.

Essa coluna é uma vergonha para o jornalismo também porque generaliza uma tragédia.

“E tudo isso para dar de cara com uma militância esvaziada, mas que faz barulho, queima pneus e ataca prédios públicos, agride jornalistas, manda para o hospital antagonistas de suas crenças”, escreve.

Ela deve estar se referindo ao episódio lamentável de um homem foi à porta do Instituto Lula, sozinho, para hostilizar petistas, logo depois da decretação da prisão do ex-presidente.

Empurrado para longe, bateu a cabeça na traseira de um caminhão em movimento e se feriu — ao que parece, gravemente. Já tem inquérito aberto, o autor está identificado, já prestou depoimento e foi indiciado.

Diferentemente dos atentados ocorridos no Sul do Brasil, durante a caravana de Lula. Pessoas também se feririam —  o professor Paulo Frateschi, que acompanhava Lula, perdeu um pedaço da orelha em consequência de uma pedrada.

E não foi acidente, foi agressão deliberada.

Houve até tiro, disparado contra o ônibus onde eu e outros jornalistas estávamos.

Não tem nenhum agressor identificado.

Impunes, esses manifestantes de direita agora se sentem à vontade para invadir uma rádio, chamar um jornalista de bandido e ameaçar agredi-lo — apenas porque esse jornalista os criticou pela violência das manifestações contra Lula.

Nem se incomodam de estarem sendo gravados em vídeo.

São pessoas como estas, que desfilam a cavalo e de chicote na mão, pedras do bolso e, às vezes, armas na cintura que devem apreciar textos como a da jornalista e roteirista Mariliz Pereira Jorge.

O último dela vale três chicotadas no ar. Uhuuuu. Aqui é Bagé.

O texto serve para tranquilizar a consciência:

“Está vendo, não estamos sozinhos. Tem a moça lá de São Paulo que diz que eles são ridículos”.

Como ironia, a jornalista diz que era para não presenciar o ridículo das manifestações a favor de Lula que se posicionou contra o impeachment.

“Saudade de Dilma”, resume.

Mentira. Ela é a própria essência do movimento que levou ao impeachment.

Armada de preconceito.

Homem armado é fotografado perto da caravana de Lula. Foto: Reprodução