A depender da câmara dos deputados, Bolsonaro não será importunado pelo menos até março de 2022, a despeito de não governar, promover tumulto, conspirar contra a democracia e atacar as instituições.
O motivo é simples: quase 100% dos parlamentares dependem de emendas parlamentares para manter seus redutos eleitorais e garantir a reeleição.
O DCM apurou que até deputados de oposição negociam entregas com o presidente da casa e chefe do Centrão, Arthur Lira.
Quase sem exceção – note que no Rio de Janeiro Marcelo Freixo, atualmente no PSB, negocia apoio de PP de Lira para a disputa do governo do Estado.
“Você acredita que a negociação no Rio é desconectada dos interesses dos partidos em Brasília?”, comentou um deputado do MDB sob a condição de anonimato.
A própria visita de Lula ao Nordeste serve de exemplo: o ex-presidente esteve com líderes partidários de diversas correntes e com todos o foco do diálogo passa por ambições e chances eleitorais.
Assim, as chances de um processo de impeachment prosperar são mínimas, mesmo que partidos como MDB, PSD, PDT e PSDB, para ficar apenas nesses, façam fumaça para distrair o público com formação de comissões e alinhamentos políticos contrários aos interesses do mandatário.
Outro ponto de consenso entre os parlamentares responde pelo nome de Hamilton Mourão: por pior que seja Bolsonaro, ninguém tem interesse em entregar o comando do país ao general.
Tabelinha com Ciro Nogueira
Arthur Lira acerta os acordos diretamente com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Basta um despacho do presidente da câmara para o sinal verde ser autorizado pelo seu colega de partido. Bolsonaro nem fica sabendo do que acontece.
Segundo a fonte consultada pelo DCM, o mandatário não governa e Paulo Guedes não apita nada sobre a execução orçamentária.
“Recursos para obras e custeio fazem diferença na economia de pequenos e médios municípios”, diz o parlamentar do MDB.
“Em alguns locais deputados que entregam emendas chegam a obter 50% dos votos. Quem tem coragem de abrir mão disso em ano pré-eleitoral?”
Arthur Lira é definido como truculento e áspero.
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Negocia caso a caso na base do ‘dá ou desce’, como se diz em Brasília.
Tem o comando do planejamento do Orçamento e o controle da sua execução. Enquanto quiser, Bolsonaro fica.
Em que pese os interesses, mesmo na base do governo procurando com lupa é difícil encontrar na câmara alguém 100% alinhado com Bolsonaro. O mandatário é uma quase unanimidade: ninguém gosta dele.
Por essa razão, vai sangrar até março do ano que vem, período em que começam as definições e alinhamentos para o vale-tudo da disputa que acontece em outubro, e então será abandonado por todos.
Resta saber se o país sobrevive até lá.