São Paulo caiu no velho truque de eleger um político se vendendo como não político.
De cada dez palavras que ele proferiu em suas entrevistas depois da vitória para a prefeitura de São Paulo, onze são “gestor” — como se uma coisa excluísse a outra.
É apenas um mantra sem sentido para enganar quem quer ser enganado. A campanha do tucano capturou o desânimo e a desesperança da sociedade e alçou Doria a porta voz e símbolo disso.
Pela primeira vez desde 1992, um candidato ganha no primeiro turno na cidade. E, de maneira inédita, teve menos votos do que os registros de abstenções, brancos e nulos.
Um em cada três paulistanos (34,8%) não participou da escolha, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
Um professor de gestão de políticas públicas ouvido pela BBC Brasil, Pablo Ortellado, aponta que a debandada é resultado da onda de manifestações de 2013 e da Lava Jato.
“Estamos vivendo uma profunda crise do sistema de representação por causa de dois processos”, disse.
“Junho de 2013, com a grande mobilização da sociedade brasileira rejeitando o sistema de representação e demandando direitos, e esse escândalo da Lava Jato, que contaminou e colocou sob suspeita todo o sistema politico partidário. Todos ficaram sob suspeita desde o início das investigações”.
Doria é tão político quanto os outros. O fato de essa papagaiada colar prova que ninguém nunca perdeu grana por subestimar a inteligência alheia. Como lobista, à frente do grupo Lide, se dedicava a juntar empresários e ministros na mesma mesa num resort baiano para fazer “negócios”.
Ele foi presidente da Paulistur, da Embratur e recebeu dinheiro do governo Alckmin, em forma de publicidade, para revistas que ninguém lê de sua editora, distribuídas em seus eventos. Sua negação da política é fazer política.
Alckmin não deu as caras na propaganda, mas organizou a coligação de 13 partidos que renderam o tempo de TV maior do que o dos demais. Geraldo está sendo investigado no Ministério Publico Eleitoral por uso da máquina pública em favor do pupilo.
Doria soube se aproveitar do antipetismo paulistano que gerou milícias de oportunistas como o MBL, Vem Pra Rua etc.
Ele se considera uma versão de Michael Bloomberg, o prefeito novaiorquino, mas é uma tradução meia boca de Donald Trump e uma atualização de Fernando Collor, para ficar em apenas dois nomes que se apresentavam como o “novo” quando sempre foram, na verdade, de uma indigência ancestral.
Sai um prefeito que pôs o dedo na ferida da mobilidade urbana, tentando repensar a dependência estúpida do carro, entra um demagogo prometendo aumentar a velocidade nas Marginais.
Prometeu que não vai tentar a reeleição. Não precisa porque, segundo o roteiro combinado, quer suceder seu tio no governo de São Paulo. Para quem não faz política, esse menino vai longe.