Com Parente, caem os últimos resquícios de credibilidade de sua amiga Miriam Leitão. Por Miguel Enriquez

Atualizado em 1 de junho de 2018 às 13:23
Abraço dos afogados: Miriam Leitão e Pedro Parente, presidente da Petrobras

POR MIGUEL ENRIQUEZ

Exatos dois anos depois de sua posse, no dia 1º de junho de 2016, Pedro Parente, não é mais o presidente da Petrobras.

Queridinho do mercado, fora apresentado como o homem providencial e o melhor gestor de crises de que o país dispunha, o executivo adequado para sanar a estatal, abalada pelo chamado Petrolão.

Entre os áulicos, ninguém superou a jornalista Miriam Leitão, a decana dos comentaristas de economia dos veículos do grupo Globo.

Há menos de três semanas, Miriam, que não tem o menor pudor em deixar-se fotografar em poses lânguidas ao lado de Parente, FHC e outros amigos, dedicou-lhe seu programa na GloboNews para uma espécie de egotrip.

“A Petrobras virou a página da sua pior crise, sem dúvida nenhuma, o que não quer dizer que a gente possa relaxar. Estamos seguindo um planejamento estratégico com muita disciplina. Por outro lado, temos que reconhecer que tem evidentemente o efeito do petróleo subindo. E como ele sobe, pode descer”, disse Parente, ante o olhar embevecido de Miriam.

Na ocasião, Parente revelou que todo o esforço na empresa estava dirigido para fazer os ajustes operacionais necessários, a renegociação para mudar o perfil da dívida e as melhoras na área de segurança, porque a Petrobras tem que ser lucrativa com o barril a US$ 35 ou a US$ 75.

“Como o preço do petróleo é cíclico, a gente faz bem de seguir a sabedoria, as lições da Bíblia”, afirmou. “Sete anos de bonança e depois sete anos de tempestade. Vamos durante a bonança nos preparar para a tempestade, fortalecendo a empresa e trabalhando no menor custo possível.”

Na ocasião, Parente comemorava o lucro de R$ 6,9 bilhões obtido pela Petrobras no primeiro trimestre e 2018, o primeiro após quatro de prejuízos. Um dos pilares desta mudança, expressada pela retomada da lucratividade, pontificou Miriam Leitão, é a não intervenção política.

“A Petrobras foi atingida por várias tempestades: a corrupção, os investimentos errados impostos à direção executiva, a manipulação de preços de derivados”, afirmou.” Que os próximos governantes aprendam as lições, bíblicas e laicas, sobre por que evitar a interferência na gestão.”

Outro ponto alto do programa, foi quando Parente reafirmou a intocabilidade da nova política de preços da estatal, com a prática de reajustes diários nos preços dos derivados, em função da alta das cotações internacionais, mesmo que estas disparem.

Parente ratificou essa política, sustentando que a Petrobras não determina os preços, pois esses são o resultado da oscilação da matéria-prima.

“Nunca vi ninguém falar que, quando sobe o preço do trigo, em algum momento alguém vai dizer ao padeiro ‘não suba o pão.’ Não é culpa do padeiro”, respondeu um Parente autossuficiente, seguro de que sua posição era imexível, imune às interferências políticas.

Para desgraça de Parente e Miriam, a Petrobras não é exatamente uma padaria. Monopolista num setor estratégico, não tem como escapar às pressões da sociedade. Foi o que constataram Parente e o governo Temer ao serem surpreendidos pela gigantesca mobilização dos caminhoneiros, sublevados contra os resultados de sua política de preços.

Parente aprendeu, à custa do seu emprego, que o presidente da Petrobras pode muito, mas não pode tudo. Bastaram 10 dias de uma greve, que instalou o caos em todo o país, para a casa cair.

Mas não chorem por Parente, que em seus bons momentos chegou a ser cogitado como o candidato capaz de unir as forças de centro direita à presidência da República.

Ele já tem um emprego garantido na BRF, onde ocupa a presidência do Conselho de Administração, função que pode acumular com a presidência executiva.

E Miriam? Continuará no lugar de sempre, defendendo as causas de sempre, por mais impopulares e equivocadas que sejam.

https://www.youtube.com/watch?v=uhkLmfskLac&t=743s