O comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, deu entrevista ao jornalista Igor Gielow, da Folha, sabendo que uma pergunta seria feita.
Gielow perguntou se ele bateria continência para Lula. Parece óbvio que a resposta seria sim, que ele vai bater continência para Lula, se Lula for eleito.
O brigadeiro não poderia responder de outra forma. Outra resposta seria um desastre.
Mas a questão aqui é outra. O comandante da Aeronáutica deu a entrevista para deixar claro que vai se submeter ao comando de Lula.
Em outras circunstâncias, a indagação não teria muito sentido. Hoje, é a pergunta mais importante, porque confronta o comandante da FAB com a posição do seu atual chefe supremo.
Esse é o recado dado: escreve aí que ninguém está pensando em não bater continência para Lula.
É mais do que um pedido de trégua a quem vai vencer a eleição, se não for golpeado antes, como aconteceu em 2018.
O resto da fala do militar fica subentendido. E esse é o resto: Bolsonaro foi abandonado pelo que é considerado o mais bolsonarista dos comandantes das três armas.
E os outros dois comandantes? Os outros em algum momento também dirão que aquela cena grotesca de Bolsonaro derramando farofa pode ter sido o limite.
Transcrevo abaixo a pergunta e a resposta e mais um trecho que também é relevante.
Leia também:
1- Eduardo Bolsonaro se diverte na Disney, enquanto chuvas matam pessoas em SP
2- Fake news? Bolsonaro diz que “nunca tirou 1 centavo” do cartão corporativo
3- Medo? Moro diz que é perseguido pelo TCU e ataca Lula: “Lamentável”
Objetivamente, vocês vão prestar continência se Lula ou qualquer outro for presidente?
Lógico. Nós somos poder do Estado brasileiro. A continência é um símbolo. Quando a gente entra nas Forças Armadas, a gente aprende que ela visa a autoridade. Nós prestaremos continência a qualquer comandante supremo das Forças Armadas, sempre.
E esse outro trecho deve ser lido com atenção, porque tem um recado a Bolsonaro, ao condenar a radicalização:
“Eu receio que nossa sociedade esteja muito dividida, muito polarizada e radical. Isso é ruim para o futuro, estamos chegando a um nível de incapacidade de compreender uma visão diferente, e isso se reflete na disputa política. A FAB, e as Forças, tenho certeza, se manterão dentro de sua destinação constitucional. Não tomarão partido, a política não entrará nos nossos quartéis. Não há qualquer indução por parte do comando da FAB. Como cidadão, vejo com preocupação como estamos radicalizados, isso não é bom”.
Outro detalhe deve ser observado. É quando o comandante se refere à FAB como “um poder do Estado brasileiro”. Forças militares, de qualquer área, não são poder nenhum.
Os poderes, segundo a Constituição, são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
(Originalmente publicado no BLOG do Moisés Mendes)
Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link