O comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, disse para subordinados em conversas privadas que a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi “indesejada” pela maioria dos militares, mas “infelizmente” aconteceu.
As declarações do general foram feitas para oficiais do Comando Militar do Sudeste no dia 18 de janeiro, três dias antes de assumir a chefia do Exército com a demissão do ex-chefe da Força, o general Júlio César de Arruda. Os áudios foram gravados secretamente em uma reunião e divulgados pelo podcast Roteirices, do Spotify. O Exército ainda não se posicionou sobre o caso.
“Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade [na eleição]. Infelizmente, foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado, mas aconteceu”, declara o chefe da Força nas gravações, que vêm circulando em diversos grupos militares desde a última semana.
O coronel da reserva Marcelo Pimentel falou sobre o caso em publicação no Twitter. “Nenhum comandante deveria convocar seus subordinados para falar-lhes de política, muito menos sobre a sua visão política, em horário de expediente e dentro do quartel, não importa o que diga! Será que os jornalistas endoidaram ao aplaudir isto?”, questionou.
Tomás estava conversando com seus subordinados depois que Arruda decidiu reunir o Alto Comando do Exército pela primeira vez após as invasões terroristas do dia 8 de janeiro. Na conversa gravada, o comandante relatou que “nós estamos na bolha fardado, militarista, de direita e conservadora” e que, por causa disso, era importante reconhecer que “existe outra bolha, e ela não é pequena”.
“A diferença nunca foi tão pequena, mas o cara fala assim: ‘General, teve fraude’. Nós participamos de todo o processo de fiscalização, fizemos relatório, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não. Eu estou falando para vocês, pode acreditar. A gente constatou fraude? Não”, diz Tomás.
“Este processo eleitoral que elegeu o atual presidente e que não elegeu o ex-presidente foi o mesmo processo eleitoral que elegeu majoritariamente um Congresso conservador. Elegeu majoritariamente governadores conservadores”, continuou, falando sobre o resultado das eleições.
Segundo outros relatos, o ex-chefe bolsonarista havia ordenado que os comandantes militares repassassem mensagens legalistas às tropas, para a manutenção da hierarquia e disciplina. Com isso, o novo chefe aproveitou essa ordem para continuar as conversas internas e ao menos “tentar” incentivar o apoio do grupo a Lula.