Começa a eleição que quase já terminou. E este ‘quase’ é o perigo. Por Fernando Brito

Atualizado em 3 de novembro de 2020 às 11:42
Trump e Biden durante segundo e último debate antes das eleições nos EUA, em 22 de outubro — Foto: Reuters

Originalmente publicado por TIJOLAÇO

Por Fernando Brito

Até as 5 horas da manhã de hoje, praticamente 100 milhões de votos de norte-americanos já esperavam para ser contados e ninguém duvida que entre eles haja folgada maioria em favor de Joe Biden, o candidato democrata.

São 73% dos eleitores que votaram nas eleições de 2016 e, provavelmente, dois terços dos 150 milhões de votos que se espera sejam depositados nesta eleição.

Outros 28 milhões de votos podem estar nas malas postais, a caminho das seções eleitorais às quais correspondem, pois este é o saldo de cédulas solicitadas por eleitores e ainda não recebidas e, potencialmente, o que será objeto de disputas judiciais se não chegarem até hoje ou em dois ou três dias após as eleições, dependendo das regras estaduais. Provavelmente, a maior parte delas já foi postada, está a caminho ou ainda não foi contabilizada pelos escritórios eleitorais.

Há, portanto, algo como 20% dos eleitores registrados que poderão (ou não, pois o voto é facultativo – aparecer hoje nas cabines eleitorais e este é o último lance, algo desesperado, dos grupos reacionários dos quais cada vez mais depende o Partido Republicano.

Em tese, portanto, restariam algo como entre 30 e 40 milhões de votos a serem dados hoje, entre os quais, segundo a CNN, a maioria pró-Trump seria destacada.

Ainda assim, não em muitos estados onde o número de eleitores é alto e a tendência é francamente democrata, como a Califórnia e Nova York, dois colégios eleitorais seguros para Biden.

O complicado – e distorcido – sistema de eleição norte-americana, porém, tem tudo para fazer de uma eleição com clara vantagem de votos populares uma incógnita com o voto que realmente vale: o dos delegados.

Pois apenas dois dos 50 estados – os pequenos Maine e Nebraska – adotam a distribuição proporcional dos delegados ao Colégio Eleitoral. Nos demais, a regra do “the winner take it all” (o vencedor leva tudo) fará com que Texas (38 delegados), Flórida (29), Pennsylvania (20), Geórgia (16) e Carolina do Norte (15) possam deixa a eleição indefinida por dias.

Um início de apuração pró-Trump, com base nas urnas do dia de hoje, apenas, antes de contabilizados os votos antecipados, pode tornar realidade o que é um temor generalizado: o de que Trump anuncie antecipadamente sua vitória e passe a recusar os votos que sejam apurados a seguir.

Portanto, a possibilidade de que o desenlace da disputa que paralisa o mundo seja rápido está restrita à situação em que o resultado seja acachapante, seja para um massacre ao trumpismo, seja para desmentir as pesquisas e subirmos a um patamar mais grave na ascensão do neofascismo no mundo.